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EDUCAÇÃO
Para estudiosos da USP, da PUC e da Unicamp, progressão continuada paulista transformou-se em sistema excludente
Universidade rejeita modelo do PSDB em SP
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudos desenvolvidos por professores da USP, da Unicamp e da
PUC-SP reprovam o sistema de
progressão continuada implantado há cinco anos nas escolas estaduais paulistas. O Estado concentra o maior número de escolas
(3,3 milhões de alunos) organizadas nesse modelo -adotado nos
governos dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin.
Para os pesquisadores, o princípio da progressão, concebido para promover a inclusão escolar,
foi distorcido, implementado de
forma autoritária e se tornou um
mecanismo sofisticado de excluir.
Professores, coordenadores e
diretores de escolas dizem que a
idéia é boa, mas que a prática ainda está distante do que deveria.
A progressão (ou sistema de ciclos) tem como princípio substituir a avaliação de uma série para
a outra pelo acompanhamento
regular do aluno até que ele atinja
os objetivos de aprendizagem
-sem passar pela experiência da
reprovação, tida como negativa.
No sistema, a reprovação por
defasagem de aprendizado só
ocorre na 4ª e na 8ª séries -anos
finais dos ciclos de ensino fundamental. Mas faltas levam à repetência em qualquer ano.
A principal crítica ao sistema
implantado é a impossibilidade
de oferecer o acompanhamento
necessário para que, mesmo sem
repetir de ano, o aluno aprenda.
Estudo da PUC-SP (Pontifícia
Universidade Católica) sobre as
políticas públicas da Secretaria de
Estado da Educação para enfrentar o fracasso escolar, feito pela
educadora Norinês Bahia, aponta
distorções que estariam mascarando situações de exclusão.
A pesquisadora acompanhou
por três anos 52 alunos de uma escola estadual em Diadema (Grande SP) que passaram por classes
de aceleração -voltadas para os
que não atingem o rendimento
esperado em séries nas quais não
podem ser reprovados- e retornaram ao ensino regular.
A conclusão foi a de que os alunos não recebiam a orientação
adequada e que professores despreparados e inexperientes assumiam as aulas de reforço, dadas
em quantidade insuficiente. Ou
seja: os alunos com dificuldades
acabavam ainda mais excluídos.
"Os professores mais experientes escolhem primeiro e, em geral,
não querem as aulas de reforço",
explica Norinês. As aulas de reforço são frequentemente distribuídas entre profissionais eventuais e
estagiários, segundo a pesquisa.
"Já ficou provado que o sistema
tradicional, com reprovação, não
funciona. A proposta de corrigir
as defasagens do aluno durante o
ano é interessante, mas não é o
que acontece", afirma ela.
Imposição
A tese do educador José Cleber
de Freitas, que pesquisou pela
PUC-SP a implementação do sistema, afirma que os ciclos foram
uma "imposição" e que não houve preparação nem discussão, só
autoritarismo. "Os educadores ficaram de lado, recebendo tudo
pelo "Diário Oficial", a partir de
decisões de gabinetes", diz.
Para implementar uma política
de ciclos, conclui o estudo, somente discurso pedagógico não
adianta. "A secretaria [de Estado
da Educação] diz que foram criadas condições, mas quem vivencia o cotidiano das escolas sabe
que o que existe é só um ajuntamento de séries, uma negação de
todo o processo de ciclos."
Na USP (Universidade de São
Paulo), estudo da psicóloga Lygia
de Sousa Viegas avaliou a motivação dos professores de uma escola
estadual e concluiu que a forma
de implantação do sistema "produziu um sentimento de oposição
à progressão continuada".
Segundo a pesquisa, os professores, apesar desse sentimento,
não discordam da necessidade de
acabar com a exclusão escolar e
acreditam nos princípios da progressão. "Não foi um "isso não",
mas um "assim não"."
Pesquisa feita pela Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) com 160 alunos de uma escola estadual de Campinas avaliou o impacto da progressão sobre a motivação dos alunos e concluiu que 88% deles estudam
mesmo sem o risco de repetir.
Os resultados, no entanto, não
correspondem ao nível de motivação declarado. "Isso sugere que
o sistema não sabe aproveitar o
prazer que os alunos têm em estudar, revertendo-o em aprendizado", sustenta Edna Neves, responsável pelo estudo.
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