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AMBIENTE
Ibama vetou o arrasto desde junho, mas pescadores alegam não ter recursos para mudar a forma de coleta de camarão
Proibida, pesca predatória persiste no CE
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, NA PRAIA DE QUIXABA (CE)
Por uma portaria do Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis), pescadores de todo
o litoral do Ceará, do Piauí, do Rio
Grande do Norte e de Pernambuco estão proibidos, desde junho
do ano passado, de fazer a pesca
de arrasto de camarão em barcos
a motor, próximo à costa.
Mas, apesar da proibição, no
Ceará, sem fiscalização ou qualquer projeto que redirecionasse a
atividade pesqueira, essa prática,
considerada predatória para o
ecossistema marinho, continua.
Para tentar convencer os pescadores a procurar outras espécies
no mar, o Ibama do Ceará esticou
o prazo para o início da proibição
e, somente a partir do dia 1º de janeiro, a pesca de arrasto deveria
ter sido extinta no Estado. Os pescadores, porém, não receberam
orientação nem recursos para
mudar e não sabem como podem
sobreviver sem o camarão.
A pesca de arrasto próxima à
costa é considerada predatória
porque a rede carrega tudo o que
está na água, revirando o habitat
de diversas espécies.
Chamadas pelos ambientalistas
de "carros blindados do fundo do
mar", as redes de arrasto possuem chumbo, para ter peso suficiente para arrastar a pesca; duas
portas de madeira ficam presas
nas laterais da rede, para impedir
que os animais presos se soltem.
Uma vez lançada ao mar, a rede
é arrastada de duas a quatro horas
até ser recolhida, com o barco a
motor sempre em movimento.
Peixes pequenos presos na rede
morrem ainda no fundo do mar,
esmagados por outros que também são capturados pela pesca.
Apenas os camarões e alguns
poucos peixes são aproveitados.
O restante da chamada "fauna
acompanhante", como ostras, estrelas-do-mar, filhotes de caranguejo e de peixes e restos de vegetação marinha, são jogados de
volta ao mar, como entulho. Em
12 horas no mar, o arrasto é feito
até cinco vezes pelo pescador.
A proibição dessa modalidade
de pesca próxima à costa já existia
em quase todo o litoral brasileiro,
mas só com a portaria nº 35 do
Ibama passou a ser proibida no litoral do CE, do PI, do RN e de PE.
O arrasto em barco a motor ainda é permitido em alto-mar, a distâncias que variam de acordo com
as características de cada local.
No Ceará, a distância mínima
para a pesca de arrasto com barco
a motor é de três milhas náuticas,
o equivalente a 5,5 quilômetros,
mas, na praia de Quixaba (a 170
km de Fortaleza), os barcos fazem
o arrasto a menos de uma milha,
livres de qualquer fiscalização, como presenciou a Agência Folha,
na manhã do dia 13 de janeiro.
Nas seis horas em que percorreu o mar, primeiro numa jangada a vela, depois num barco a motor que pescava camarão, a reportagem contou 20 barcos que faziam o arrasto na região. "Os fiscais somos nós mesmos", disse o
pescador José Carlos da Silva, 36.
Utilizando barcos sucateados e
sem equipamento de segurança,
os pescadores reclamam que não
podem ir longe porque o gasto
com o combustível seria alto e
porque o barco não agüentaria.
O estrago é agravado porque, na
localidade vizinha, na praia de
Ponta Grossa, ainda existe um dos
últimos refúgios do peixe-boi, espécie ameaçada de extinção.
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