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COLÓQUIO SP PARIS
Vice-prefeito relata as experiências da capital francesa
"Gestão metropolitana deve começar projeto por projeto"
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para que a gestão metropolitana
funcione, é preciso estabelecer
uma estrutura institucional específica -com parlamento e Executivo intermunicipais, por exemplo- ou a atuação conjunta das
cidades interessadas, em projetos
específicos, dá conta do recado
-como ocorre nos consórcios?
A dúvida não é exclusiva da capital paulista, que já percebeu que
muitos de seus problemas -a
exemplo das enchentes, que trazem prejuízos a milhares de moradores todos os verões- só se
resolverão se forem atacados de
forma orquestrada com outros
municípios da Grande São Paulo.
É também da cidade de Paris,
que ainda não consegue replicar
com as cidades vizinhas o modelo
de gestão intermunicipal francês
que se tornou famoso no mundo,
é citado como exemplo inclusive
por especialistas brasileiros e se
multiplica aos milhares pelo país.
As dificuldades de operacionalizar a administração em conjunto
são bem parecidas nas duas capitais (a paulistana e a francesa), e o
conselho do melhor caminho a
seguir, pelo menos a curto prazo,
vem do vice-prefeito parisiense
que cuida do planejamento urbano, Jean-Pierre Caffet, 52 (o cargo,
lá, equivale ao de secretário municipal aqui, mas é eletivo).
"Não se deve colocar a carroça
na frente dos bois. É melhor começar a gestão metropolitana de
maneira informal, pela discussão
de projeto por projeto, do que
criar, logo de início, uma instituição", afirmou na entrevista que
concedeu à Folha, nas coxias do
auditório do Sesc Vila Mariana
(zona sul de SP), logo após ter
participado de mesa-redonda no
colóquio São Paulo 450 Paris.
Promovido pelo Sesc (Serviço
Social do Comércio) e pelas prefeituras paulistana e parisiense, o
evento discutiu na semana passada, por três dias, problemas comuns às duas cidades.
Desconfiança
A partir da realidade de Paris,
Caffet disse que a estrutura institucional metropolitana é difícil de
montar por duas razões.
Primeiro, trata-se de um fenômeno ainda bem recente na França, onde o desenvolvimento de estruturas intermunicipais se iniciou após a sanção de uma lei federal em 99. A segunda razão é
que, historicamente, a cidade de
Paris, como capital do país, "sempre desprezou os municípios vizinhos ", afirmou o vice-prefeito.
"Em conseqüência desse desprezo, Paris teve, durante muito
tempo, o hábito de exportar para
os municípios vizinhos os pobres
e o lixo. Então há uma certa desconfiança histórica. Por isso é melhor começar por projetos concretos, para que haja concordância sobre coisas que se podem fazer junto. Depois, quando os projetos começam a ser implementados e a confiança é estabelecida,
vai ser possível pensar em alguma
estrutura [metropolitana]", disse.
As semelhanças com a realidade
da Grande São Paulo são muitas.
Embora a região metropolitana
exista, por lei, desde 1974, sua estrutura de gestão -da qual a única remanescente é a Emplasa
(Empresa Paulista de Planejamento Urbano S.A.)- nunca
chegou a ser montada. A exportação de população pobre para cidades vizinhas também ocorreu,
acompanhando o processo de periferização impulsionado pelo aumento do custo de vida nas regiões centrais da cidade.
Por outro lado, a capital também manteve, senão desprezo,
um distanciamento histórico em
relação às questões metropolitanas, reconhecido pela atual administração, que diz estar procurando recuperar o tempo perdido.
Um exemplo simbólico, mas
considerado importante, foram
as duas visitas feitas pela prefeita
Marta Suplicy (PT) à nova sede do
Consórcio Intermunicipal do
Grande ABC, que, apesar de ser
uma das mais bem-sucedidas experiências de gestão intermunicipal, fora ignorado pelas administrações paulistanas anteriores.
Os consórcios, fóruns intermunicipais e modelos inspirados nos
comitês de bacias hidrográficas
(com participação igualitária do
Estado, das prefeituras e da sociedade) são defendidos por muitos
municípios, inclusive São Paulo e
Guarulhos (os dois maiores da
Grande SP), que rejeitam a atual
forma de gestão metropolitana,
centrada no governo estadual.
Os ideais de um Legislativo intermunicipal e um prefeito metropolitano são difíceis de atingir,
reconhecem os especialistas, e
mais difíceis ainda de financiar.
Exemplo francês
Mas tais ideais foram rapidamente alcançados por diversas
pequenas cidades francesas, em
grande parte dos casos por imposição da necessidade.
Segundo Caffet, há milhares de
instituições intermunicipais na
França porque a maioria das 36
mil cidades do país -o Brasil tem
cerca de 5.500- são muito pequenas para cuidar sozinhas de
problemas como deposição do lixo e abastecimento de água.
Trabalhando juntas, elas conseguem também uma economia
com o ganho de escala, afirma o
vice-prefeito. Os cidadãos elegem
os representantes que integrarão
as instituições intermunicipais.
São eles que decidem juntos sobre
os projetos que vão ser realizados
-a lei federal dá um apoio financeiro a esse tipo de ordenamento.
"É um meio também de redistribuição da riqueza", diz Caffet.
Modelo semelhante funciona na
região da Ile de France, que engloba Paris e mais sete distritos
-nos quais se dividem 1.281 cidades e quase 11 milhões de pessoas. Há na região, porém, uma
forte presença do governo federal,
segundo o vice-prefeito, pelo fato
de nela estar a capital do país.
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