São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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CARNAVAL

Sem apoio oficial, agremiações se bancam com venda de camisetas e ingressos para ensaios; desfiles começam no fim de semana

Blocos levam até 50 mil às ruas do Rio

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O Carnaval de rua do Rio de Janeiro ganhou força nos últimos três anos com blocos que arrastam até 50 mil pessoas. Os blocos ganharam até um guia oficial, produzido pela Riotur (Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro) e distribuído em hotéis e agências de turismo.
"As pessoas querem ir para rua se divertir. Ninguém quer mais ficar trancado dentro de um clube como era moda até 15 anos atrás", disse a produtora teatral Cleide Barcelos, uma das organizadoras do Carmelitas, que desfila há 14 anos em Santa Teresa (região central). No ano passado, o Carmelitas atraiu cerca de 5.000 pessoas. No primeiro ano de desfile, eram 200 foliões, no máximo.
A cada ano cresce o número de blocos na cidade, mas nem a prefeitura nem as associações sabem precisar o número exato. "Tem bloco que desfila um ano só", afirma Oswaldo Portella, da Associação de Blocos e Bandas.
Sem apoio financeiro da prefeitura, os blocos são organizados geralmente por profissionais liberais. A arrecadação do dinheiro é feita semanas antes do Carnaval, com a venda de camisetas e ingressos para os ensaios.
Com exceção do Monobloco, todos nasceram da mesma forma: um grupo de amigos que gosta de Carnaval e está cansado das mesmice dos desfiles das escolas de samba decide criar um bloco. O amigo chama um amigo, que chama o amigo do amigo... O bloco fica famoso, e os organizadores perdem o controle da multidão.
Criado há quatro anos pelo músico Pedro Luís e a banda A Parede, o Monobloco arrastou 7.000 pessoas já no primeiro desfile. "No ano seguinte foram 40 mil pessoas para a rua Jardim Botânico, uma multidão veio no sentido em que o bloco estava indo e parou tudo", conta Pedro Luís.
Em 2003, o bloco mudou de endereço e levou 60 mil foliões para a orla. "É mais fácil de dispersar se acontecer algum problema."

Horário secreto
Para evitar uma multidão fora do controle, o Suvaco de Cristo, que desfila desde 1986 pela rua Jardim Botânico (Jardim Botânico, zona sul), há três anos não divulga o horário do desfile.
"Não queremos atrair pessoas que não têm a ver com o bloco. Quem tem a ver acaba descobrindo", afirma o médico João Aveleira, um dos fundadores do Suvaco -que tem esse nome porque a rua em que desfila fica embaixo da axila direita da estátua do Cristo Redentor.
Para Aveleira, "o Carnaval de rua surgiu na zona norte e veio para a zona sul. Agora ele começa a ressurgir no sentido inverso, da zona sul para a zona norte".
O Bloco da Segunda, que sai da Cobal de Botafogo (zona sul) pelas ruas do bairro, também não divulga a hora em que vai desfilar: "Senão vem uma multidão, e o carro de som não dá vazão", diz a publicitária Evelin Sussekind, uma das organizadoras.
Apesar do crescimento dos últimos anos, os blocos do Rio ainda não têm o profissionalismo dos trios elétricos de Salvador. A exceção é o Monobloco, que tem empresário, assessor de imprensa e faz shows durante todo o ano.
João Aveleira apelidou o Monobloco de "babysitter" do Suvaco de Cristo: "Eles levam as crianças com eles", brincou.

Samba
Além dos ensaios, as escolhas de samba também animam as semanas pré-carnavalescas dos blocos. O engenheiro Floriano Torres, um dos fundadores do Que Merda é Essa?, disse que só escolherá o samba dias antes do Carnaval: "Ser demitido por telefone dá samba, mas pode ser que até aconteça algo pior", disse ele.
O bloco, que está completando dez anos, sai pelas ruas de Ipanema (zona sul) no mesmo dia do Simpatia É Quase Amor, "o pai de todos os blocos", segundo Torres.
Eles desfilam pelas mesmas ruas, em sentido contrário. Quando se encontram, o Que Merda é Essa? reverencia o Simpatia, que em 2004 estará completando 20 anos. Nos dois blocos, a escolha do samba é uma competição acirrada, mas o enredo (tema) é livre.
A Banda de Ipanema, tombada na segunda-feira passada como o primeiro bem imaterial do Rio de Janeiro também leva milhares de pessoas nos três desfiles que faz pela orla de Ipanema.
No Imprensa que eu Gamo, criado por jornalistas, o enredo é definido antes pelos organizadores. O tema deste ano é o espetáculo do crescimento no governo Lula. A jornalista Rita Fernandes, uma das organizadoras, disse que o bloco tem aumentado nos últimos anos: "Os blocos tradicionais cresceram muito, e quem não gosta de bloco grande vem pro nosso", disse. No ano passado, ela calcula que 3.000 pessoas tenham participado do desfile.



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