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CARNAVAL
Sem apoio oficial, agremiações se bancam com venda de camisetas e ingressos para ensaios; desfiles começam no fim de semana
Blocos levam até 50 mil às ruas do Rio
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
O Carnaval de rua do Rio de Janeiro ganhou força nos últimos
três anos com blocos que arrastam até 50 mil pessoas. Os blocos
ganharam até um guia oficial,
produzido pela Riotur (Empresa
de Turismo do Município do Rio
de Janeiro) e distribuído em hotéis e agências de turismo.
"As pessoas querem ir para rua
se divertir. Ninguém quer mais ficar trancado dentro de um clube
como era moda até 15 anos atrás",
disse a produtora teatral Cleide
Barcelos, uma das organizadoras
do Carmelitas, que desfila há 14
anos em Santa Teresa (região central). No ano passado, o Carmelitas atraiu cerca de 5.000 pessoas.
No primeiro ano de desfile, eram
200 foliões, no máximo.
A cada ano cresce o número de
blocos na cidade, mas nem a prefeitura nem as associações sabem
precisar o número exato. "Tem
bloco que desfila um ano só", afirma Oswaldo Portella, da Associação de Blocos e Bandas.
Sem apoio financeiro da prefeitura, os blocos são organizados
geralmente por profissionais liberais. A arrecadação do dinheiro é
feita semanas antes do Carnaval,
com a venda de camisetas e ingressos para os ensaios.
Com exceção do Monobloco,
todos nasceram da mesma forma:
um grupo de amigos que gosta de
Carnaval e está cansado das mesmice dos desfiles das escolas de
samba decide criar um bloco. O
amigo chama um amigo, que chama o amigo do amigo... O bloco
fica famoso, e os organizadores
perdem o controle da multidão.
Criado há quatro anos pelo músico Pedro Luís e a banda A Parede, o Monobloco arrastou 7.000
pessoas já no primeiro desfile.
"No ano seguinte foram 40 mil
pessoas para a rua Jardim Botânico, uma multidão veio no sentido
em que o bloco estava indo e parou tudo", conta Pedro Luís.
Em 2003, o bloco mudou de endereço e levou 60 mil foliões para
a orla. "É mais fácil de dispersar se
acontecer algum problema."
Horário secreto
Para evitar uma multidão fora
do controle, o Suvaco de Cristo,
que desfila desde 1986 pela rua
Jardim Botânico (Jardim Botânico, zona sul), há três anos não divulga o horário do desfile.
"Não queremos atrair pessoas
que não têm a ver com o bloco.
Quem tem a ver acaba descobrindo", afirma o médico João Aveleira, um dos fundadores do Suvaco
-que tem esse nome porque a
rua em que desfila fica embaixo
da axila direita da estátua do Cristo Redentor.
Para Aveleira, "o Carnaval de
rua surgiu na zona norte e veio
para a zona sul. Agora ele começa
a ressurgir no sentido inverso, da
zona sul para a zona norte".
O Bloco da Segunda, que sai da
Cobal de Botafogo (zona sul) pelas ruas do bairro, também não
divulga a hora em que vai desfilar:
"Senão vem uma multidão, e o
carro de som não dá vazão", diz a
publicitária Evelin Sussekind,
uma das organizadoras.
Apesar do crescimento dos últimos anos, os blocos do Rio ainda
não têm o profissionalismo dos
trios elétricos de Salvador. A exceção é o Monobloco, que tem empresário, assessor de imprensa e
faz shows durante todo o ano.
João Aveleira apelidou o Monobloco de "babysitter" do Suvaco
de Cristo: "Eles levam as crianças
com eles", brincou.
Samba
Além dos ensaios, as escolhas de
samba também animam as semanas pré-carnavalescas dos blocos.
O engenheiro Floriano Torres,
um dos fundadores do Que Merda é Essa?, disse que só escolherá o
samba dias antes do Carnaval:
"Ser demitido por telefone dá
samba, mas pode ser que até
aconteça algo pior", disse ele.
O bloco, que está completando
dez anos, sai pelas ruas de Ipanema (zona sul) no mesmo dia do
Simpatia É Quase Amor, "o pai de
todos os blocos", segundo Torres.
Eles desfilam pelas mesmas
ruas, em sentido contrário. Quando se encontram, o Que Merda é
Essa? reverencia o Simpatia, que
em 2004 estará completando 20
anos. Nos dois blocos, a escolha
do samba é uma competição acirrada, mas o enredo (tema) é livre.
A Banda de Ipanema, tombada
na segunda-feira passada como o
primeiro bem imaterial do Rio de
Janeiro também leva milhares de
pessoas nos três desfiles que faz
pela orla de Ipanema.
No Imprensa que eu Gamo,
criado por jornalistas, o enredo é
definido antes pelos organizadores. O tema deste ano é o espetáculo do crescimento no governo
Lula. A jornalista Rita Fernandes,
uma das organizadoras, disse que
o bloco tem aumentado nos últimos anos: "Os blocos tradicionais
cresceram muito, e quem não
gosta de bloco grande vem pro
nosso", disse. No ano passado, ela
calcula que 3.000 pessoas tenham
participado do desfile.
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