São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Cinco morrem a cada dia em estradas de MG

Líder em acidentes no país, com 105 diários, Estado tem índices de violência comparáveis aos do crime no Rio, que mata 4 por dia

Especialistas divergem sobre as causas dos acidentes em Minas Gerais, Estado que tem a maior malha rodoviária do país

BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA

Maior malha rodoviária do Brasil, Minas Gerais tem índices de violência nas estradas comparáveis aos da violência urbana em metrópoles. Líder em acidentes no país, com média de 105 por dia entre rodovias federais e estaduais, Minas registra, diariamente, cinco mortes nas estradas, em média.
No Rio, quatro pessoas são assassinadas por dia, em média.
Dados de uma série histórica da Superintendência da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no Estado apontam que, de janeiro de 2005 a outubro do ano passado, 4.202 pessoas morreram nas rodovias federais que cortam Minas. O número é 41% superior ao de mortos no atentado contra o World Trade Center, nos EUA.
As estatísticas completas de 2008 devem ser concluídas pela PRF nesta semana. Se seguirem a média, indicarão um crescimento de pelo menos 22% em relação a 2005.
Explicações sobre o volume de mortos não podem deixar de fora a extensão da malha de mais de 24 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Mas as causas dividem opiniões.
Perito criminal em Minas na área de acidentes de trânsito, Paulo Ademar de Souza Filho põe 90% da responsabilidade dos acidentes nos motoristas -interpretação igual à da PRF.
Ele cita como exemplo o trecho de 100 km entre Belo Horizonte e João Monlevade, na BR-381, com muitas curvas, mas com boa sinalização. O trecho é considerado o mais mortífero da mais mortífera das rodovias mineiras. Das 4.202 mortes registradas desde 2005, 1.149 ocorreram na BR-381.
"As pessoas têm que se adaptar aos trechos", diz Souza Filho. Posição oposta é defendida por Daniel Presta García, doutor em engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele se dedica a analisar o traçado das estradas.
Segundo ele, as rodovias brasileiras, de maneira geral, sofrem de um problema estrutural: foram projetadas com parâmetros ultrapassados, em que a velocidade para a maioria dos trechos é de 60 km/h.
García defende que as rodovias sejam adaptadas aos condutores. Para ele, há duas soluções para o problema. A menos viável seria a da mudança de cultura do motorista, "o que levaria anos". A melhor alternativa, segundo o engenheiro, rebate a posição de Souza Filho.
"É a estratégia do "traffic calming" [abrandamento do tráfego], que permite alterar o padrão de utilização da rodovia com alguns elementos básicos, como sinalização extra."
Há mais de 30 anos estudando rodovias mineiras, o engenheiro Salvador Alves Nogueira segue a análise de García. "As maiores responsáveis pelos acidentes em Minas são as rodovias mal projetadas, mal construídas e mal conservadas."
Para 2009, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) prevê investimentos de R$ 828 milhões em MG. O valor é 32% menor que o previsto no orçamento de 2008. No ano passado, a previsão era investir R$ 1,21 bilhão. O Dnit diz ter investido R$ 356 milhões -29% do previsto.
O secretário-adjunto de Transportes de MG, João Antônio Fleury Teixeira, diz que a principal estratégia na área é o Pro-MG (Programa de Recuperação e Manutenção Rodoviária de MG). Implantado em 2004, o programa consiste em firmar contratos com empresas interessadas em cuidar da recuperação e manutenção de estradas por quatro anos. Ao longo do contrato, é feito um acompanhamento semanal.


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