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Promotoria investiga reforma em delegacia
Unidade de Jundiaí continua com os problemas estruturais de antes das obras de R$ 520 mil; Ministério Público suspeita de desvio de verbas
O delegado seccional Darci Sassi e a empresa EBCI, responsável pela obra, são alvos da investigação; empresa nega irregularidade
ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A delegacia central de Jacareí
(a 75 km de São Paulo) recebeu
R$ 520 mil de dinheiro público
para ser reformada. Hoje, um
mês após a conclusão das obras,
no entanto, o prédio apresenta
os mesmos defeitos e problemas estruturais de antes do
gasto de mais de meio milhão.
O Ministério Público Estadual investiga o suposto desvio
de verba da reforma, que foi feita a pedido do delegado seccional da cidade, Darci Sassi.
A empreiteira responsável
pela obra foi a EBCI Empresa
Brasileira de Construções Industriais, criada em 2008 com
um capital social de R$ 200 mil.
Só no ano passado, ela ganhou seis pregões eletrônicos
no valor de R$ 1,4 milhão, entre
Secretaria de Segurança Pública e a Secretaria da Agricultura.
O sócio majoritário da companhia é o engenheiro Oseias
Ferreira de Mello, 27, que mora
com a mãe, Aparecida de Mello,
numa casa da periferia de Cosmópolis, região de Campinas.
Aparecida conta que, dois
anos antes de Mello abrir a empreiteira com capital de R$ 200
mil, precisou fazer um empréstimo bancário para pagar as
despesas da formatura do filho.
A Promotoria investiga se o
engenheiro é só um "laranja",
ou seja, o dono de fachada da
empresa. O delegado Sassi é o
outro alvo da investigação.
Também chamou a atenção
do Ministério Público o fato de
o endereço da empreiteira registrado na junta comercial estar localizado em Araras, entre
Campinas e Ribeirão Preto, e
não ter qualquer identificação
em sua frente. Na sexta passada, durante o horário comercial, ninguém atendeu a Folha
no endereço. Os vizinhos disseram que uma família mora ali.
Segundo o promotor Nelson
Garcia Rosado, por causa das
evidências de irregularidades,
ele encaminhou a investigação
ao Gaeco (grupo do Ministério
Público que apura o crime organizado) para que sejam analisadas outras licitações das
quais a empreiteira participou.
"É claro que essa empresa
não poderia realizar a obra [da
delegacia]", afirmou Rosado.
Preços
As suspeitas de irregularidades na reforma da delegacia foram apresentadas ao Ministério Público pelo advogado Antonio José Ferreira dos Santos,
que comparou a planilha de
serviços contratados na obra
com os de fato realizados.
Foram enumerados pelo menos 15 pontos não executados
dos serviços contratados, como
a implantação de uma rota de
fuga de incêndio. Materiais
reutilizados foram apresentados como materiais novos, segundo o advogado. "Não foi feito quase nada", afirma Santos.
Policiais de Jacareí ouvidos
pela Folha dizem que o valor
da obra realmente feita não ultrapassa R$ 100 mil.
Indícios
Para o especialista em direito
administrativo Carlos Ari
Sundfeld, o fato de a empreiteira não informar corretamente
o endereço de sua sede não é
por si só um crime. "São indícios que justificam uma apuração para saber se a empresa é,
de fato, operante", afirmou.
Procurado, o delegado seccional responsável pela obra se
recusou a falar com a Folha. Mello, o sócio majoritário da empreiteira,
afirmou que não há nenhuma
irregularidade na reforma e
que a sede da empresa funciona atualmente em Campinas.
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