São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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Foco

Filmagem de tiroteio em "Tropa de Elite 2" assusta moradores de favela no Rio

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

Quarenta policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) seguram fuzis e seguem o "caveirão" (carro blindado da PM) que vai subir a favela. Helicópteros sobrevoam a área. Há som de tiros de fuzil, numa área em que traficantes armados foram expulsos.
Corta. "Vai repetir?", pergunta o PM Fábio Eustáquio. Ele é um dos "policiais-atores" de "Tropa de Elite 2", que, para gravar uma cena, criou clima de operação policial no morro Dona Marta, em Botafogo, zona sul do Rio, ontem pela manhã.
O som de tiros de fuzil calibre 762 assustou moradores da favela, pacificada há um ano, e de bairros próximos, como Laranjeiras.
"Fiquei quietinha, abaixada na sala de casa", conta a dona de casa Graça Oliveira, 60, moradora do Dona Marta há 37 anos. "Daí criei coragem, peguei o telefone e liguei para a vizinha." Pouco depois, descobriu que era um filme. "A gente já viu tanta coisa que tem medo", conta.
A cena foi repetida a manhã toda na rua de acesso à favela. Os moradores tinham de esperar o aviso da produção para passar por ali. "É desrespeito com a gente", diz Maria Francisca da Silva, moradora da comunidade há 22 anos.
Ela ficou meia hora com as sacolinhas do mercado na calçada à espera do "ok" da produção para subir a rua e preparar o almoço.
De um prédio numa rua próxima, em Botafogo, Francisquinha da Silva, 60, costurava no sofá e se assustou. "Mas espiei da janela e vi uns equipamentos passando. Daí entendi que era mentirinha."
A produção do filme avisou à associação de moradores do Dona Marta que, por alto-falante, afirma ter comunicado a população sobre as cenas.
Nas filmagens do longa de José Padilha, 85 policiais e membros das Forças Armadas trabalharam como atores. Na maioria dos casos, usavam fuzis de mentira, em fibra de vidro. As armas verdadeiras estavam "frias", sem balas.


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