|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Calouro é obrigado a beijar fígado de boi durante trote
Alunos de medicina da Universidade de Mogi das Cruzes ficaram diante de cruz para levar ovada; polícia abriu inquérito para apurar caso
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
Calouros do curso de medicina da UMC (Universidade de
Mogi das Cruzes) foram submetidos a um trote em que eram
obrigados a beijar um fígado de
boi e ficar diante de uma cruz
para serem atingidos por ovos e
catchup. Alguns também levaram tapas e cusparadas. A Polícia Civil investiga o caso.
Praticado por veteranos do
curso, o trote ocorreu num sítio
em Mogi das Cruzes (Grande
SP) na segunda-feira passada e
foi revelado anteontem pelo
"Fantástico", da Rede Globo.
No sítio, cerca de 400 estudantes promoviam um churrasco com a participação de veteranos e 80 dos 100 calouros. As
imagens da TV mostram um rapaz com um fígado na cabeça levando uma cusparada de cerveja no rosto. Os veteranos estavam todos de uniforme laranja.
"Se chorar, vai ser pior" foi o
tema do trote aos calouros de
medicina. A inscrição está em
um muro da rodovia Mogi-Dutra, que dá acesso à cidade.
Uma aluna presente no sítio
disse à Folha que trotes como
aquele ocorrem todos os anos.
Jogar catchup e ovo, disse ela,
"toda faculdade faz". Outros
estudantes disseram que os calouros assinaram um termo se
responsabilizando pelo que
ocorresse. O centro acadêmico
negou relação com o trote.
O caseiro do sítio, Djalma Félix dos Santos, 52, afirmou ter
presenciado brincadeiras com
farinha, ovos, catchup e mostarda. Ele disse que policiais
militares passaram pelo local e
viram alunos jogando cerveja
uns nos outros. Ouviram se tratar de brincadeira e partiram.
Ninguém procurou a polícia
para registrar ocorrência. Com
base nas imagens, porém, a polícia vai apurar possível crime
de constrangimento ilegal, cuja
pena vai de três meses a um
ano de detenção ou multa. Os
envolvidos terão de depor.
A universidade abriu sindicância para apurar a responsabilidade dos alunos. Uma das
penas previstas é expulsão. Antes da festa, a UMC chegou a
contratar agentes à paisana para tentar identificar autores de
trote no campus. Em março de
1980, um calouro de medicina
da mesma universidade morreu após um trote. Ele resistiu
ao corte de cabelo e foi agredido com socos e pontapés.
Em Mogi, o trote estudantil é
vetado por lei municipal. Para
que haja uma medida, porém, é
preciso haver denúncia.
Para o médico Augusto Scalabrini, consultor de residência
do Sírio-Libanês e professor da
Faculdade de Medicina da
USP, o trote é "reflexo de uma
sociedade violenta". "Sou a favor de acabar com essa bobagem." Scalabrini, 57, diz que
quando fez medicina, na década de 1970, as brincadeiras
eram mais inocentes -os calouros eram pintados e tinham
de "matar formiga a grito".
Texto Anterior: USP retira aval para PM entrar no campus Próximo Texto: Sisu ainda tem quase metade das vagas Índice
|