São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Caso evidencia tensão entre público e privado

IGNACIO CANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A morte de um cabo que tentava negociar com criminosos a devolução do carro do seu coronel representa, de forma dramática, a tensão entre público e privado na área da segurança.
Quando o Estado é incapaz de dar garantias de proteção, os cidadãos procuram soluções privadas. A segurança privada é uma indústria gigantesca.
Há outros exemplos de ações privadas que substituem a função do poder público. Um deles é o linchamento de criminosos; outro, a tentativa de negociar com os criminosos a devolução dos bens roubados.
Quanto menor a confiança no Estado, maior a probabilidade de esses fatos acontecerem. Por sua vez, as iniciativas privadas contribuem também para a deslegitimação do Estado.
Feita por um coronel, a negociação reforça o desprestígio das corporações, visto que seus integrantes acham que não vale a pena acionar o Estado. Ele agiu de forma privada, esquecendo sua condição pública, mas sua conduta não é crime.
Por outro lado, se ele tivesse deflagrado uma operação policial para recuperar o carro, talvez estivesse agora recebendo críticas por utilizar o aparato do Estado para fins individuais.
Não há soluções privadas plenamente satisfatórias na área da segurança. Só o Estado, com a sociedade atrás dele, pode dar segurança às pessoas, e qualquer solução privada estará submetida a severas limitações e a riscos inaceitáveis.


IGNACIO CANO é professor da Uerj e membro do Laboratório de Análise da Violência (LAV-Uerj).


Texto Anterior: Cabo morre após mulher de coronel negociar com tráfico
Próximo Texto: Memória: Até Exército negociou com tráfico no Rio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.