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ANÁLISE
Caso evidencia tensão entre público e privado
IGNACIO CANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A morte de um cabo que tentava negociar com criminosos a
devolução do carro do seu coronel representa, de forma dramática, a tensão entre público e
privado na área da segurança.
Quando o Estado é incapaz
de dar garantias de proteção, os
cidadãos procuram soluções
privadas. A segurança privada é
uma indústria gigantesca.
Há outros exemplos de ações
privadas que substituem a função do poder público. Um deles
é o linchamento de criminosos;
outro, a tentativa de negociar
com os criminosos a devolução
dos bens roubados.
Quanto menor a confiança
no Estado, maior a probabilidade de esses fatos acontecerem.
Por sua vez, as iniciativas privadas contribuem também para a
deslegitimação do Estado.
Feita por um coronel, a negociação reforça o desprestígio
das corporações, visto que seus
integrantes acham que não vale
a pena acionar o Estado. Ele
agiu de forma privada, esquecendo sua condição pública,
mas sua conduta não é crime.
Por outro lado, se ele tivesse
deflagrado uma operação policial para recuperar o carro, talvez estivesse agora recebendo
críticas por utilizar o aparato
do Estado para fins individuais.
Não há soluções privadas
plenamente satisfatórias na
área da segurança. Só o Estado,
com a sociedade atrás dele, pode dar segurança às pessoas, e
qualquer solução privada estará submetida a severas limitações e a riscos inaceitáveis.
IGNACIO CANO é professor da Uerj e membro do
Laboratório de Análise da Violência (LAV-Uerj).
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