São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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Cabo morre após mulher de coronel negociar com tráfico

Negociação para reaver carro roubado resultou na morte de militar, por 15 tiros; ele havia ido a favela acompanhar o coronel

Ela afirmou que o combinado era que os policiais não participariam da troca de R$ 2.000 pelo Honda Civic roubado no sábado

ITALO NOGUEIRA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A negociação com traficantes pela devolução do carro roubado de um coronel da PM do Rio acabou com a morte, por 15 tiros, de um cabo da corporação.
O comando da Polícia Militar exonerou o coronel e determinou a instalação de um inquérito para apurar sua conduta.
O cabo Guttemberg da Conceição, 32, foi morto em entrada da favela de Costa Barros, zona norte, quando acompanhava o coronel Carlos Henrique Alves de Lima, que tentava recuperar um Honda Civic roubado às 7h de sábado, em Realengo (zona oeste). O carro era conduzido pelo coronel, que deixou recentemente o comando do 5º BPM para assumir o Batalhão de Polícia Rodoviária da PM.
Segundo Leila Oliveira, 35, mulher de Alves de Lima, os ladrões telefonaram uma hora depois, para propor o pagamento de R$ 2.000 em troca do carro. Ela disse que aceitou a negociação, embora o marido recomendasse que não o fizesse.
"[O ladrão] estava tão gentil, falava que era pai de família e precisava do dinheiro para pagar uma dívida", disse ela, que conta ter aceitado a negociação porque a vistoria anual não havia sido feita e temia, assim, não receber indenização do seguro.
Foi marcado como ponto de encontro a estação ferroviária de Costa Barros, às 15h. Leila diz que, no local, foi surpreendida pela chegada do marido, de seu motorista, o cabo, e de um terceiro PM. Na versão do oficial, os policiais foram lá para, após o pagamento, tentar prender os ladrões.
Também surpresos com a chegada dos policiais, os criminosos teriam disparado várias vezes, acertando Conceição, que morreu no hospital.
Em conversa ontem com o comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, Alves de Lima disse que a negociação ocorreu à sua revelia, mas que sabia que ela tinha acontecido e acompanhara a mulher até a favela.
Ele relatou ao comandante que o cabo se posicionou sobre uma passarela, de modo a avisá-lo e a um outro policial que os acompanhava que a negociação havia se realizado. A seguir, disse o oficial, os três PMs tentariam prender os acusados.
O oficial diz que o cabo, que já trabalhara na região, deve ter sido reconhecido. Nenhum dos policiais vestia a farda.
As explicações não convenceram o comandante-geral, que suspendeu a nomeação de Alves de Lima para o Batalhão de Polícia Rodoviária e determinou ao corregedor da PM, coronel Ronaldo Menezes, abertura de sindicância para averiguar a correção dos procedimentos.
A sindicância tem prazo de 30 dias. Caberá a Menezes apontar qual a versão correta: a do coronel e sua mulher ou a que circula pela PM, de que o próprio coronel conduziu a negociação e o cabo morreu ao entrar sozinho no morro.
Conceição foi enterrado anteontem com honras militares. O carro não foi recuperado.
No domingo, PMs do 9º Batalhão invadiram o morro da Pedreira em busca dos envolvidos no assassinato. Segundo a PM, houve troca de tiros entre os policiais e os criminosos. Três suspeitos morreram, mas a PM não tinha, até a conclusão desta edição, informações se estão envolvidos na morte do cabo.


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