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Cabo morre após mulher de coronel negociar com tráfico
Negociação para reaver carro roubado resultou na morte de militar, por 15 tiros; ele havia ido a favela acompanhar o coronel
Ela afirmou que o combinado era que os policiais não participariam da troca
de R$ 2.000 pelo Honda
Civic roubado no sábado
ITALO NOGUEIRA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A negociação com traficantes
pela devolução do carro roubado de um coronel da PM do Rio
acabou com a morte, por 15 tiros, de um cabo da corporação.
O comando da Polícia Militar
exonerou o coronel e determinou a instalação de um inquérito para apurar sua conduta.
O cabo Guttemberg da Conceição, 32, foi morto em entrada
da favela de Costa Barros, zona
norte, quando acompanhava o
coronel Carlos Henrique Alves
de Lima, que tentava recuperar
um Honda Civic roubado às 7h
de sábado, em Realengo (zona
oeste). O carro era conduzido
pelo coronel, que deixou recentemente o comando do 5º BPM
para assumir o Batalhão de Polícia Rodoviária da PM.
Segundo Leila Oliveira, 35,
mulher de Alves de Lima, os ladrões telefonaram uma hora
depois, para propor o pagamento de R$ 2.000 em troca do carro. Ela disse que aceitou a negociação, embora o marido recomendasse que não o fizesse.
"[O ladrão] estava tão gentil,
falava que era pai de família e
precisava do dinheiro para pagar uma dívida", disse ela, que
conta ter aceitado a negociação
porque a vistoria anual não havia sido feita e temia, assim, não
receber indenização do seguro.
Foi marcado como ponto de
encontro a estação ferroviária
de Costa Barros, às 15h. Leila
diz que, no local, foi surpreendida pela chegada do marido,
de seu motorista, o cabo, e de
um terceiro PM. Na versão do
oficial, os policiais foram lá para, após o pagamento, tentar
prender os ladrões.
Também surpresos com a
chegada dos policiais, os criminosos teriam disparado várias
vezes, acertando Conceição,
que morreu no hospital.
Em conversa ontem com o
comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, Alves de Lima disse que a negociação ocorreu à sua revelia,
mas que sabia que ela tinha
acontecido e acompanhara a
mulher até a favela.
Ele relatou ao comandante
que o cabo se posicionou sobre
uma passarela, de modo a avisá-lo e a um outro policial que
os acompanhava que a negociação havia se realizado. A seguir,
disse o oficial, os três PMs tentariam prender os acusados.
O oficial diz que o cabo, que já
trabalhara na região, deve ter
sido reconhecido. Nenhum dos
policiais vestia a farda.
As explicações não convenceram o comandante-geral, que
suspendeu a nomeação de Alves
de Lima para o Batalhão de Polícia Rodoviária e determinou
ao corregedor da PM, coronel
Ronaldo Menezes, abertura de
sindicância para averiguar a
correção dos procedimentos.
A sindicância tem prazo de 30
dias. Caberá a Menezes apontar
qual a versão correta: a do coronel e sua mulher ou a que circula pela PM, de que o próprio coronel conduziu a negociação e o
cabo morreu ao entrar sozinho
no morro.
Conceição foi enterrado anteontem com honras militares.
O carro não foi recuperado.
No domingo, PMs do 9º Batalhão invadiram o morro da Pedreira em busca dos envolvidos
no assassinato. Segundo a PM,
houve troca de tiros entre os policiais e os criminosos. Três suspeitos morreram, mas a PM não
tinha, até a conclusão desta edição, informações se estão envolvidos na morte do cabo.
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