São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011 |
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BICHOS VIVIEN LANDO vivlando@uol.com.br Parques de concentração
Quando pequena, a cada vez que fazia o tradicional passeio ao zoológico de São Paulo, ficava maquinando formas de abrir as jaulas e soltar todos os animais. Uma espécie de antecipação de Harry Potter. Mais tarde, em cada viagem, fazia questão de visitar os zoos locais. Os de Berlim e Helsinque, tão arrumadinhos. O de Moscou, desolador. Nunca considerei aquilo como lazer. Quando muito, uma espécie de teste de resistência, só para ver até onde suportaria. E o limite foram as notícias, semana passada, sobre o zoológico de Kiev, na Ucrânia, onde um batalhão de animais vem morrendo. Considerado um dos melhores da ex-União Soviética, o Kivski Zoopark vem sendo vítima de corrupção brava, capaz de vender animais no mercado negro e desviar os recursos de alimentação e veterinário sabe-se lá para onde. O elefante Boy foi encontrado morto em 2010, seguido de uma camelo e uma zebra. Antes deles, em 2007, uma ursa marrom idosa começou a bater a cabeça na parede, desesperada com o pequeno espaço e a companhia de um urso malaio macho. Foi sacrificada. Também a China vem enfrentando problemas com vários parques e, no ano passado, 11 tigres siberianos morreram de fome no de Shenyong, ao norte do país. O que vem de encontro à argumentação de que uma das razões de existência dos zoos é a preservação de espécies em via de extinção. Como o tigre siberiano, justamente. Que destino besta é esse do espécime encarregado de conservar sua espécie no planeta às custas de uma vida de confinamento, longe de seu habitat natural e de seus semelhantes? E à base de reprodução artificial! A outra defesa da existência dos zoológicos é a de que servem às crianças para tomarem contato com bichos que não encontrariam nas esquinas da cidade. Belo início de relacionamento, realmente, cada um de seu lado das grades e um saco de pipocas a uni-los ou separá-los para sempre. Não imagino nada que justifique trancafiar animais selvagens e livres em áreas exíguas, mesmo quando quilométricas. Distantes, quase sempre, do tipo de natureza que seus instintos reconhecem. Fora de suas raízes. E muito frequentemente maltratados na alimentação, na convivência com os parceiros, na higiene. A ponto de perderem, eles mesmos, a noção nata de como se cuidarem para não morrer. Texto Anterior: Por aí : Castelo paulistano Próximo Texto: Justiça: CNJ nega pedido de OAB sobre escuta em conversa com preso Índice | Comunicar Erros |
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