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INFÂNCIA
Segundo pediatra, divulgação de casos pela imprensa estimula as vítimas a romperem o silêncio e a apontarem os abusadores
Denúncia de crime sexual cresce 145%
ELIANE MENDONÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O primeiro trimestre do ano registrou um crescimento de 145%
no número de denúncias de abuso e exploração sexual de crianças
e adolescentes se comparado ao
mesmo período de 2001. Respectivamente, foram verificadas no
país 366 denúncias contra 149.
O levantamento foi realizado
pela Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência),
em parceria com o Ministério da
Justiça. O maior crescimento
(180%) foi verificado no número
de casos de abuso sexual -60 em
2001 contra 168 casos neste ano.
Alguns detalhes do levantamento assustam. Exemplo: cerca de
80% dos casos de abuso sexual
são cometidos por alguém que a
vítima ama e confia. Em 62,76%
dos casos a violência é cometida
por alguém da própria família,
pais e padrastos lideram o ranking dos abusadores.
Outro dado preocupante:
79,17% dos abusos acontecerem
dentro da casa onde a vítima mora, o que dificulta a denúncia.
Segundo o presidente da Abrapia, o pediatra Lauro Monteiro Filho, 65, o crescimento no número
de denúncias não significa que esteja ocorrendo um aumento no
número de casos.
"Que isso acontecia com frequência nós já sabíamos. A dificuldade era mesmo de que as pessoas tivessem a consciência da
barbaridade do ato e tomassem a
iniciativa de romper o silêncio e
denunciar. Acho que é isso o que
está começando a acontecer."
Segundo ele, algumas pesquisas
internacionais revelam que apenas 10% dos casos de abuso sexual
chegam a ser denunciados.
"O tabu existe porque os abusadores são sempre pessoas que gozam da confiança da criança e sabem o bastante dela para conhecerem algumas características de
sua personalidade que deixam
evidente sua vulnerabilidade."
Monteiro filho disse que são
"presas fáceis" os menores inseguros, tímidos e com problemas
de auto-estima.
"Isso pode acabar causando um
trauma que a vítima, seja ela
criança ou adolescente, vai levar
para o resto da vida. A não ser que
ela consiga desabafar o que passou com alguém de sua confiança,
o que, infelizmente, não acontece
com frequência", afirmou.
Para ele, o que tem motivado o
aumento de denúncias é a ampla
divulgação pela mídia de casos
envolvendo violência contra
crianças e adolescentes da classe
média, nos últimos meses.
Como exemplos, há os casos de
pedofilia envolvendo padres da
Igreja Católica e o do pediatra Eugenio Chipkevitch, 47, acusado de
abusar sexualmente de 35 pacientes -a maioria adolescentes.
Apesar de o incesto (relação sexual entre membros da mesma família) ser a modalidade mais comum de abuso sexual, não é a
única. A definição, segundo a
Agência de Notícias dos Direitos
da Infância é muito mais ampla.
Inclui desde carícias erotizadas,
masturbação forçada e exibicionismo até a violência psicológica e
a sedução da vítima por meio de
ameaças e chantagens.
O número de casos de exploração sexual também dispararam
no primeiro trimestre deste ano
em comparação ao ano anterior.
Foram 89 denúncias recebidas
nos três primeiros meses de 2001
contra 198 no mesmo período
deste ano -um salto de 222%.
O que difere as duas modalidades de violência -exploração e
abuso- é, basicamente, a relação
comercial. Nos casos de exploração há sempre dinheiro envolvido
e, com frequência, a presença de
um aliciador, que faz a "comercialização" com o "freguês".
A Abrapia lançará no próximo
dia 18, quando se comemora o
Dia Nacional de Combate ao
Abuso e à Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes, uma
cartilha com dicas de como pais
devem orientar os filhos contra a
violência. Serão 7.000 unidades, a
serem distribuídas a instituições
que trabalham na defesa dos direitos da criança e do adolescente.
A data foi escolhida por ter sido
o dia da morte da menina Araceli
Santos, 10, vítima de sequestro,
estupro e assassinato, em Vitória
(ES), em 1973.
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