São Paulo, sábado, 02 de junho de 2001

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PIAUÍ

Professora obriga garota de dez anos a escrever "Eu sou mais besta"

Castigo escolar causa indignação

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma professora de Teresina obrigou uma aluna de dez anos a escrever cem vezes no caderno: "Eu sou mais besta que a Jeane".
O castigo foi aplicado na sexta-feira da semana passada, depois que Alrealanny Lima Ribeiro chamou a colega Jeane de besta durante a aula. "Foi muito ruim ter escrito. Eu acho que a professora foi muito ignorante em me obrigar a fazer isso."
O caderno com o castigo e o visto da professora foi descoberto na mesma tarde por Alcemar Lima, 53, avô da menina, com quem ela mora. Ele ficou revoltado e procurou o Instituto Educacional Gonzaga Cavalcante, formado por uma cooperativa de professores, onde Alrealanny cursava a 2ª série do ensino fundamental. A mensalidade é de R$ 60.
"A diretora me garantiu que ela [a professora" seria afastada, mas na segunda-feira ainda estava lá."
Como o avô havia orientado a neta para não entrar na sala caso a professora não tivesse sido substituída, Alrealanny teve de fazer uma prova no balcão de recepção.
A reportagem procurou ontem a diretora da instituição, identificada apenas como Arlete, e a professora que teria aplicado o castigo, Samara. Outra professora da escola, que não quis dizer o nome, informou que elas não iriam se pronunciar sobre o caso.
"Esse avô é uma pessoa muito nervosa, que só está querendo aparecer na mídia. A escola reconhece que errou, e a própria professora já se arrependeu."
"Escrever aquilo é o mesmo que ela dizer a si mesma que não presta, que é inútil", disse o avô.
Apesar de admitir o erro, o conselho da cooperativa decidiu em reunião que o caso não era motivo para demissão. "Não podemos perder uma boa profissional só por causa de um erro bobo."
A partir de segunda, Alrealanny irá frequentar outra escola. "Ninguém ficou do meu lado, só minha prima que estuda lá", disse.
"Ela não respeitava a professora e os colegas, brigava, gritava, rasgava as tarefas", afirmou a professora da instituição.
Para a psicóloga Maria Cristina Vicentim, professora da PUC-SP, esse tipo de castigo é uma violência. "É um ataque ao direito, ao respeito e à integridade que toda criança tem. Pode até trazer danos psíquicos e de auto-estima."
Lima fez uma denúncia ao Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, que irá entrar com uma representação no Ministério Público contra a escola.



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