|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARBARA GANCIA
Ministério Público não é polícia
"O próximo passo será a execução de juízes, jornalistas e, quiçá, de altas autoridades do Estado"
"PLUS ÇA CHANGE, plus c'est
la même chose". Sábias
palavras, as do escritor
francês Alphonse Karr: quanto mais
muda, mais fica tudo como está.
O limbo da administração Cláudio
Lembo é aqui e agora. O que quer
que o governador faça traz o carimbo de seu antecessor. Parece justo
que a opinião pública interprete as
ações do Palácio dos Bandeirantes
dessa forma.
De que adianta colocar na Secretaria da Administração Penitenciária o procurador, supostamente linha-dura, Antônio Ferreira Pinto,
que ocupou o cargo (como adjunto)
no governo de Luiz Antonio Fleury
Filho, se ele já entra dizendo que
apóia o que foi feito na gestão do secretário Saulo de Abreu?
A falta de sintonia na segurança
pública de São Paulo, entre comando e subordinados, poderia ser descrita como um caso de polícia. Mas o
governador Lembo demonstra não
dar bola para isso.
Alô, Cláudio Lembo! Aposto um
picolé de limão como o senhor não
seria capaz de encontrar um só delegado em São Paulo que aprove a gestão do procurador Saulo. Aposto outro picolé (o senhor escolhe o sabor),
como não existe delegado na capital
ou no interior que veja com bons
olhos o Ministério Público fazer papel de polícia. Ora bolas, governador: o pessoal quer ver profissionais
no comando.
Nas penitenciárias, a bagunça é
generalizada. É réu primário encarcerado na mesma cela com preso de
alta periculosidade, é carcereiro sem
nenhum monitoramento que fecha
os olhos para irregularidades em
troca de dinheiro de pinga, é a verdadeira festa da uva.
Se Nagashi Furukawa, o antigo secretário da Administração Penitenciária, não pedisse demissão, o governador o teria mantido no cargo,
tranqüilamente, como se nada de
grave tivesse ocorrido.
Mas Furukawa sempre foi o homem errado, no lugar errado. Obteve a nomeação na época em que era
diretor da penitenciária de Bragança Paulista. Para quem não sabe, o
governador Covas foi à cidade assistir a uma encenação teatral de
um grupo de detentos, encantou-se
com o espetáculo e entregou o cargo
a Furukawa.
Cláudio Lembo também acha
aceitável, depois de tudo o que aconteceu em São Paulo, manter Saulo
de Abreu no cargo. Não adianta empurrar com a barriga, governador.
Os policiais não foram avisados da
iminência dos ataques do PCC. Se tivessem sido, os mortos pelos bandidos não estariam todos de folga, não
é mesmo?
Com que ânimo o senhor acredita,
governador, que a polícia deva agora
estar recebendo as ordens de Saulo?
Um tanto a contragosto, eu diria.
Sei que o senhor não vê a hora de
pegar o boné e ir embora. Mas a
questão da segurança pede urgência.
Já passamos da fase de encarar o
problema com a leveza de um Alckmin, que foi pessoalmente atender à
reivindicação do seqüestrador da filha de Silvio Santos. Chegamos ao limite, governador. O próximo passo
será a execução de juízes, jornalistas
e, quem sabe, das mais altas autoridades do Estado.
@ - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
Texto Anterior: CPI quer ouvir ex-secretário sobre acordo Próximo Texto: Qualidade das praias Índice
|