São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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BARBARA GANCIA

Ministério Público não é polícia

"O próximo passo será a execução de juízes, jornalistas e, quiçá, de altas autoridades do Estado"

"PLUS ÇA CHANGE, plus c'est la même chose". Sábias palavras, as do escritor francês Alphonse Karr: quanto mais muda, mais fica tudo como está.
O limbo da administração Cláudio Lembo é aqui e agora. O que quer que o governador faça traz o carimbo de seu antecessor. Parece justo que a opinião pública interprete as ações do Palácio dos Bandeirantes dessa forma. De que adianta colocar na Secretaria da Administração Penitenciária o procurador, supostamente linha-dura, Antônio Ferreira Pinto, que ocupou o cargo (como adjunto) no governo de Luiz Antonio Fleury Filho, se ele já entra dizendo que apóia o que foi feito na gestão do secretário Saulo de Abreu? A falta de sintonia na segurança pública de São Paulo, entre comando e subordinados, poderia ser descrita como um caso de polícia. Mas o governador Lembo demonstra não dar bola para isso. Alô, Cláudio Lembo! Aposto um picolé de limão como o senhor não seria capaz de encontrar um só delegado em São Paulo que aprove a gestão do procurador Saulo. Aposto outro picolé (o senhor escolhe o sabor), como não existe delegado na capital ou no interior que veja com bons olhos o Ministério Público fazer papel de polícia. Ora bolas, governador: o pessoal quer ver profissionais no comando. Nas penitenciárias, a bagunça é generalizada. É réu primário encarcerado na mesma cela com preso de alta periculosidade, é carcereiro sem nenhum monitoramento que fecha os olhos para irregularidades em troca de dinheiro de pinga, é a verdadeira festa da uva. Se Nagashi Furukawa, o antigo secretário da Administração Penitenciária, não pedisse demissão, o governador o teria mantido no cargo, tranqüilamente, como se nada de grave tivesse ocorrido. Mas Furukawa sempre foi o homem errado, no lugar errado. Obteve a nomeação na época em que era diretor da penitenciária de Bragança Paulista. Para quem não sabe, o governador Covas foi à cidade assistir a uma encenação teatral de um grupo de detentos, encantou-se com o espetáculo e entregou o cargo a Furukawa. Cláudio Lembo também acha aceitável, depois de tudo o que aconteceu em São Paulo, manter Saulo de Abreu no cargo. Não adianta empurrar com a barriga, governador. Os policiais não foram avisados da iminência dos ataques do PCC. Se tivessem sido, os mortos pelos bandidos não estariam todos de folga, não é mesmo? Com que ânimo o senhor acredita, governador, que a polícia deva agora estar recebendo as ordens de Saulo? Um tanto a contragosto, eu diria. Sei que o senhor não vê a hora de pegar o boné e ir embora. Mas a questão da segurança pede urgência. Já passamos da fase de encarar o problema com a leveza de um Alckmin, que foi pessoalmente atender à reivindicação do seqüestrador da filha de Silvio Santos. Chegamos ao limite, governador. O próximo passo será a execução de juízes, jornalistas e, quem sabe, das mais altas autoridades do Estado.


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