São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2011

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PASQUALE CIPRO NETO

"Eu, gerente adjunto?"


Até prova em contrário, os adjetivos concordam em gênero e número com os substantivos a que se referem

A PERGUNTA É DE uma leitora, que escreveu as seguintes palavras: "Peço sua ajuda numa questão de gênero: exerço a função de gerente adjunta, mas alguns insistem em me denominar "gerente adjunto'!". Em seguida, a leitora me pede explicações a respeito do assunto.
Eu mesmo já vi muitas funcionárias, de diversas empresas, com crachás em que se leem coisas como "gerente administrativo", "auxiliar administrativo" etc. Parece que o mundo corporativo ainda não sabe que mulheres e homens têm competência igual, identidade própria etc. Eta coisinha feia essa história de "gerente administrativo" para nomear o cargo de uma mulher!
A questão é simples: em "gerente(-)adjunto", "gerente" é substantivo, e "adjunto" é adjetivo. O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere, logo uma mulher é "gerente(-)adjunta", "gerente administrativa" etc.
Convém lembrar que "gerente" e "auxiliar", entre outros, são substantivos de dois gêneros. É o artigo (pronome etc.) que define o gênero ("O/A gerente", "Este/Esta auxiliar") e a consequente concordância do adjetivo ("O/A gerente administrativo/a", "O/A gerente(-)adjunto/a", "O/A auxiliar administrativo/a", "O/A gerente financeiro/a").
Os dicionários ainda fogem um pouco da questão. O livro "ABC da Língua Culta", de Celso Luft, é categórico. No verbete "adjunto", diz isto: "Auxiliar, ajudante, assessor; substituto, suplente. // Fem. ("mulher com cargo ou função de adjunto'): adjunta". Não me parece que deva ser diferente, já que se trata de um simples caso de concordância entre adjetivo e substantivo. Quanto ao hífen em "gerente adjunto/a", "gerente geral" e casos afins...
Bem, caro leitor, a julgar pelo que se lê nos dicionários e no "Vocabulário Ortográfico", falta padronização. Tratarei disso em outra coluna.

 

O último texto (sobre o livro "Por uma Vida Melhor") deu o que falar. Inúmeros leitores me agradeceram pelas explicações técnicas que dei sobre a questão. Alguns perguntaram por que não tomei partido.
Tomei. Afirmei que é pueril a passagem do livro sobre o preconceito linguístico. Afirmei categoricamente que a obra não ensina (o) errado. Disse também que o cerne da questão é a pertinência ou não da aplicação de princípios da linguística num livro que não se destina a alunos de letras. Afirmei isso em respeito a colegas sérios que acham descabida essa aplicação. E também porque a realidade mostra que muita gente ligada ao ensino errou feio (e ainda erra) na leitura do que se diz na obra (viu as referências à variedade popular como pregação do vale-tudo). Professores me escreveram para perguntar "sobre as novas regras da gramática". Não faltaram jornalistas querendo entrevistar-me sobre o mesmo "tema".
Sou um tanto suspeito para falar da questão toda porque, mutatis mutandis, aplico esses conceitos há 36 anos, na sala de aula, há 17, na TV Cultura, e há 14, na Folha.
Termino com trechos das mensagens (convergentes) que troquei com o eminente professor Adilson Rodrigues, coautor, com a não menos eminente professora Magda Soares, de obras magnas sobre o ensino da língua materna. Diz o Mestre: "A gramática "formal" não pode nem deve ser uma ditadura da linguagem. Ela tem que ser esclarecedora e não discriminadora. (...) A questão é aceitar o que ele (o aluno) traz, até como elemento de cultura, e acrescentar a aprendizagem TAMBÉM da norma culta, até como forma de propiciar a ascensão econômica e social do aluno". É isso.

inculta@uol.com.br


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