São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Hospitais tentam reduzir uso de antibiótico

Alguns também usam drogas antigas; no Hospital das Clínicas, médicos precisam justificar a indicação do medicamento

Instituto Central do HC registra até 200 infecções hospitalares causadas por microorganismos resistentes por mês

DA REPORTAGEM LOCAL

Controle rigoroso do uso de antibióticos, utilização de drogas antigas e diminuição do tempo de administração dos medicamentos. Essas são algumas das estratégias que os hospitais estão adotando no combate à resistência bacteriana.
Por exemplo, no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, ao receitar um antibiótico, o médico precisa preencher um formulário e justificar a indicação. Segundo a pediatra Lucília Santana Faria, o paciente só recebe o medicamento se uma comissão especializada aprovar. A junta médica também determina a dose e o tempo do tratamento.
Faria, que ainda coordena a UTI pediátrica do Hospital Sírio-Libanês, diz que o mesmo rigor é aplicado no uso profilático de antibióticos [quando se dá remédio antes e depois da cirurgia para prevenir infecções].
"Como temos [no Sírio] muito paciente cirúrgico, usamos o antibiótico na profilaxia, mas ele é suspenso no tempo correto para evitar a resistência."
No Instituto Central do Hospital das Clínicas, por onde passam cerca de 35 mil pacientes por mês, de cem a 200 deles sofrem de infecção causada por agentes de grande resistência.
"Tomamos muito cuidado com higiene e no manuseio de objetos, como tubos e catéteres, para diminuir esse número", diz Ana Sarah, do controle de infecção hospitalar do HC.
Uma outra medida é a redução do tempo de administração de antibióticos, que foi amplamente discutida durante o seminário internacional promovido pelo hospital Albert Einstein no mês passado.
Segundo o infectologista Alexandre Rodrigues Marra, do Einstein, há estudos franceses que mostram que o uso de antibióticos contra pneumonia nas UTIs por oito dias tem o mesmo resultado se o remédio for administrado durante 14 dias.
"É claro que precisa avaliar caso a caso. Têm infecções em que você precisa dar mais tempo, como a endocardite [na válvula do coração]. Mas uma pneumonia associada à ventilação mecânica pode ser tratada em menos de 14 dias."
Outra estratégia, já utilizada por alguns hospitais, é voltar a utilizar antibióticos antigos, como a polimixinas, da década de 1940. O remédio caiu em desuso em razão dos efeitos colaterais e, ao longo dos anos, foi sendo substituído por outros.
Mas as bactérias foram ficando tão resistentes que algumas delas, como a Pseudomonas aeruginosa (responsável por infecções oportunistas), estão sendo combatidas com polimixina, afirma Marra.
Uma terapia que promete bons frutos para o futuro são medicamentos que atingem os alvos que causam a resistência bacteriana. Mas as pesquisas estão em fase de estudos.
No HC, há um grupo que analisa o DNA de bactérias para averiguar se o mesmo tipo está contaminando vários pacientes -ou seja, se existe um surto no hospital. (CLÁUDIA COLLUCCI E DANIEL BERGAMASCO)


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