São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010

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ANÁLISE

Situação ainda é ruim, mas resultados apontam melhora


A PARTIR DO MOMENTO EM QUE ESSES ALUNOS [CARENTES] FORAM ABSORVIDOS PELO SISTEMA, AS NOTAS PARARAM DE CAIR


NAÉRCIO MENEZES FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os novos resultados do Ideb confirmam que a qualidade da educação está melhorando de forma consistente no Brasil. A melhora começou pela 4ª série a partir de 2003, atingiu a 8ª série em 2005 e agora começa a chegar ao ensino médio.
Esse padrão faz todo o sentido. Em primeiro lugar, devido à composição dos alunos. Entre 1995 e 2001, as notas caíram muito devido à entrada maciça de novos alunos na escola. Esses alunos vinham de famílias mais pobres, com pais menos escolarizados e tinham mais dificuldade de aprendizado.
A partir do momento em que esses alunos foram absorvidos pelo sistema, as notas pararam de cair. Como esses alunos demoram mais para chegar ao ensino médio, as notas nesse nível demoram mais para melhorar. O que explica a melhora nos resultados?
Em primeiro lugar, o aumento do nível socioeconômico das famílias mais pobres, que ocorre desde o fim dos anos 1990. Cerca de 70% do aprendizado dos alunos brasileiros está relacionado com o seu "background" familiar. As mães mais escolarizadas leem para os filhos desde cedo e acompanham a vida escolar.
Para as mães que não tiveram acesso à educação, a alternativa é colocar os filhos na creche e na pré-escola. Alunos que fizeram a pré-escola têm um desempenho bem melhor nas séries seguintes.
Entretanto, o acesso à pré-escola só atingiu as famílias mais pobres em meados da década de 1990, chegando a 70% das crianças de 4 a 5 anos em 2008.
Mães mais escolarizadas e acesso recente à pré-escola explicam por que a melhora do Ideb começou nos anos iniciais do fundamental.
A pressão da sociedade sobre os prefeitos e governadores para melhorar o aprendizado dos alunos aumentou. A criação dos sistemas de avaliação fez com que os formadores de opinião atentassem para o grave problema educacional brasileiro.
A divulgação das notas por escola e a construção de índice único para medir o desempenho facilitaram a comparação entre municípios, aumentando a cobrança. A situação ainda é muito ruim, mas os resultados educacionais devem continuar melhorando nos próximos anos, chegando com mais força ao ensino médio.

NAÉRCIO MENEZES FILHO é doutor em economia pela Universidade de Londres, professor titular e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor da FEA-USP



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