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TRAGÉDIA EM CONGONHAS
Falha ocorreu 2 segundos antes do pouso
Dados da caixa-preta revelam que o computador do avião deu alerta aos pilotos de que algo estava errado no momento da aterrissagem
Transcrição da gravação da cabine de vôo mostra que a colisão do avião com o prédio ocorreu 25 segundos depois de a aeronave tocar a pista
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A caixa-preta com dados de
voz do Airbus da TAM que explodiu em Congonhas mostra
que a falha central em todo o
acidente ocorreu apenas dois
segundos antes de o avião tocar
no solo. Nesse momento, o vôo
3054 acelerou incorretamente
e o computador fez um alerta
de que algo estava errado. A
transcrição mostra o desespero
dos pilotos, que não conseguiram controlar a aeronave, resultando no maior acidente aéreo do país, com 199 mortos.
A transcrição da gravação da
cabine do vôo, divulgada ontem
pela CPI do Apagão Aéreo,
mostra que os pilotos acionaram os manetes (alavancas de
controle de potência das turbinas) no momento certo. O correto é desacelerar ambos motores e deixar em ponto morto.
Mas algo deu errado: o avião
reagiu com aumento do nível
de ruído das turbinas.
Um segundo depois, o GPWS
(Ground Positioning Warning
System) emitiu o sinal sonoro
"retard" (retardar), reiterando
o aviso normal de desaceleração que havia sido dado pelo
computador de bordo.
Conforme a Folha antecipou
ontem, esse fato foi determinante para a seqüência de
eventos que levou o avião a não
conseguir parar no pouso. O
manete da turbina direita estava, segundo o registro da caixa-preta, em posição errada, levando à falência do sistema de
frenagem e à aceleração na pista. O que não se sabe é se isso
foi erro do piloto, como o dado
registrado indica, ou se houve
alguma falha no equipamento.
A transcrição também mostra que a colisão no prédio
aconteceu 25 segundos depois
de o avião tocar a pista, tempo
no qual os pilotos percebem
que algo muito errado aconteceu e se desesperam.
Tentam frear e controlar o
avião, mas não conseguem. A
última coisa registrada na gravação é um grito de mulher,
provavelmente uma comissária que estaria na cabine.
O diálogo entre os pilotos é
curto e dramático. Eles são
identificados na caixa-preta
pela posição que ocupam nos
assentos, esquerdo para piloto
e direito para o co-piloto, mas
não se sabe quem ocupava qual
deles na hora do acidente.
Ao tocar no solo, às
18h48m26s, o co-piloto confirma o funcionamento de apenas
um reverso. Três segundos depois, no lugar de confirmar o
funcionamento dos spoilers
(freios aerodinâmicos na asa),
ele diz: "Spoilers nada". Isto é,
os freios não funcionaram. Esse freio teria de ser acionado
automaticamente no pouso.
O piloto procura alguma explicação. Quatro segundos depois, às 18h48m30s, se desespera: "Aiii. Olha isso!". O co-piloto pede: "desacelera, desacelera". "Não consigo, não consigo", responde o piloto, que tentou parar o avião com os freios
hidráulicos das rodas.
Ele tenta manter o rumo da
aeronave e exclama "Ai meu
Deus" pouco antes da bater na
mureta do final da pista, cruzar
a avenida e explodir no prédio.
Falha
Uma hipótese central na investigação das causas do acidente é a de que o computador
de bordo do Airbus pode ter interpretado que não era a intenção dos pilotos pousar, já que
houve um comando de aceleração em um dos manetes, ainda
que por erro. Por isso teria acelerado em pista.
Quando estava a 20 pés (6
metros) de altura, o computador de bordo dá duas vezes o
alerta "retard" (retardar). Este
é o momento no qual o piloto
deve desacelerar os manetes
até o ponto morto, para que toque na pista sem aceleração.
Em seguida fica registrado na
gravação o som de manuseio
dos manetes -mas não se sabe
se o procedimento foi executado corretamente. Quase simultaneamente, o som de aceleração foi captado pelo microfone
geral na cabine, conforme
transcrito pelo NTSB (National
Transportation Safety Board).
Com isso, um segundo antes
de tocar o solo, outro computador, o GPWS, emite sinal pedindo a mesma desaceleração:
"Retard". Esse sistema monitora a proximidade do solo para
alertar de perigo e pode servir
como sistema anti-colisão.
A partir do toque no solo, há a
confusão que os dados apontavam: as turbinas passam a acelerar e os freios não funcionam
automaticamente, indicando
que o Airbus "entendeu" que o
piloto queria acelerar.
Apesar da indicação de erro
do piloto no uso do manete, as
autoridades que investigam o
acidente pedem cautela, devido
à possibilidade de falha mecânica no acionamento das alavancas ou até falha eletrônica
do computador de bordo.
A transcrição mostra uma
aproximação para aterrissagem em Congonhas aparentemente normal. Os pilotos sabiam do problema no reversor
do motor esquerdo: "Lembre-se, temos apenas um reverso",
diz a pessoa no assento do comandante. "Sim, somente o esquerdo", responde o co-piloto.
O piloto estava preocupado
com a pista escorregadia. Ele
orienta o co-piloto a pedir informações da torre do aeroporto sobre a pista. O controlador
responsável informa duas vezes que está "molhada e escorregadia". O comandante chega
a comentar com o co-piloto:
"molhada e escorregadia!".
Segundo outro dado da caixa-preta revelado pela Folha ontem, só o reverso esquerdo teria sido colocado em máximo,
quando o manual da Airbus
afirma que ambos manetes devem ser acionados dessa forma.
Com uma turbina em aceleração e outra em reverso para
auxiliar a frenagem, o avião não
conseguiu parar na pista.
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