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Paulistano vive últimos dias do "fumacê"
Às vésperas da entrada em vigor da nova lei, no próximo dia 7, paulistanos se esforçam para se acostumar com a proibição
Fiscais caça-fumaças fazem blitze e rondas pela cidade para orientar donos de bares e clientes, que ainda têm dúvidas sobre o assunto
ANA PAULA BONI
FERNANDO MASINI
DA REVISTA DA FOLHA
A lei pegou. Pelo menos é o
que se observa ao percorrer bares e restaurantes de São Paulo
às vésperas da entrada em vigor
da nova lei antifumo.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, 84% dos estabelecimentos já aderiram.
Como essa imensa maioria se
antecipou à proibição do cigarro em lugares fechados a partir
do próximo dia 7, sobraram
poucos redutos para os fumantes se despedirem do velho e
polêmico hábito.
A Folha percorreu alguns
bares e restaurantes paulistanos para registrar os últimos
dias do "fumacê".
Nas mesas, entre uma tragada e outra, ouvimos os principais afetados pela medida que
tem por objetivo proteger a
saúde de todos. Por esse motivo, eles defendem a lei. No entanto, entre largar o vício e
abandonar o bar favorito, eles
ficam com a segunda opção.
"Não irei mais a bares porque não vou deixar de fumar
agora. Vou fazer festa em casa",
diz Camila Berrini, 31, designer, que, na noite da última terça-feira, dava algumas de suas
últimas baforadas públicas no
bar Filial, na Vila Madalena.
Ela já tentou parar de fumar,
mas desistiu da empreitada por
ora. Enquanto isso, consome
um maço de cigarro por dia.
Na mesa do tradicional reduto de fumantes, Camila está
acompanhada de duas amigas.
Uma delas acha que sua rotina
boêmia não será afetada com a
vigência da lei. "Eu quero mesmo parar de fumar", diz Tatiana Araújo, 32, publicitária.
Agora só está esperando a lei
entrar em vigor para poder sair
de casa sem cair em tentação.
Para o médico Drauzio Varella, garoto-propaganda da campanha do governo de São Paulo, todo o estranhamento e toda a polêmica logo vão ser coisa
do passado.
Caça-fumaças
Os fiscais da lei antifumo ainda estão tímidos, apesar das
rondas há um mês. A recomendação até o dia 7 é orientar os
donos e clientes.
A Folha acompanhou uma
blitz noturna que durou seis
horas, quando um grupo de
três agentes saiu do Centro de
Vigilância Sanitária para percorrer pontos no Itaim Bibi
(zona oeste de São Paulo).
A visita é parte de uma rotina
que se repete desde o início de
julho. São no total 500 fiscais,
os caça-fumaças, espalhados
pela capital e pelo interior. Já
foram visitados cerca de 20 mil
estabelecimentos. A ação serve
como treino dos profissionais
que serão responsáveis por
aplicar multas a quem permitir
o fumo em locais fechados.
O diretor de meio ambiente
da Vigilância, Sérgio Valentim,
47, conta que a recepção tem
sido amistosa.
Antes de entrar no carro, ele
ajeita o colete cinza com o slogan da campanha: "Ambientes
saudáveis e livres do tabaco". A
prancheta serve para coletar
informações dos pontos comerciais. A maleta laranja, na
outra mão, brilha no escuro e
guarda aparelhos usados para
medir a fumaça no ambiente.
Exaltado
A brigada antifumo ainda parece insegura na abordagem
aos clientes. Apesar da boa recepção, os paulistanos demonstram ainda ter muitas dúvidas.
Em três meses de atividade
preparatória, os técnicos relatam casos de fumantes mais
exaltados. Um homem saiu na
rua para ofender os fiscais.
Ele acendeu um cigarro, começou a dançar na frente deles
e gritou para que eles parassem
de perturbar.
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