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PLANO DIRETOR
Medidas contra especulação imobiliária não serão aplicadas em áreas com carros, mesmo que haja subutilização
Restrições a estacionamento são eliminadas
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Plano Diretor poupou os donos dos terrenos em que estão estacionamentos de possíveis punições por subutilização das áreas.
A lei aprovada na Câmara Municipal de São Paulo, ao contrário
do projeto original da prefeitura,
considerou esses locais como
áreas de uso social, não sujeitas a
medidas antiespeculativas.
O plano original colocava alguns tipos de estacionamentos
como alvos de medidas de combate ao mau uso de imóveis.
Segundo a lei federal 10.257 -o
Estatuto da Cidade-, cabe ao
Plano Diretor definir as áreas em
que poderá obrigar proprietários
a ocupar imóveis não utilizados
ou subutilizados. A lei federal prevê ainda formas de forçar a ocupação dos imóveis, como alíquotas progressivas de IPTU e até desapropriação (veja quadro).
A intenção do estatuto é melhorar o aproveitamento do solo urbano, combater a especulação,
aumentar a oferta de imóveis e
forçar a queda dos preços em
áreas com boa infra-estrutura.
Ao induzir a ocupação de imóveis mal aproveitados, o poder
público pode beneficiar, por
exemplo, os sem-teto, e também
fatias do mercado imobiliário que
estão estagnadas. O último Censo
do IBGE, em 2000, mostrou que
São Paulo tinha 11,8% de seus
imóveis vagos (420.327 unidades). São 47 unidades vagas para
cada sem-teto.
"A utilização compulsória visa
dar uma chacoalhada no proprietário. Às vezes ele não decide o
que fazer e deixa o imóvel vazio.
Agora ele vai ter de se mexer", disse o vereador Nabil Bonduki (PT),
relator do plano na Câmara. "É o
lado bom do plano", disse Candido Malta Campos Filho, professor
de planejamento e urbanismo da
FAU (Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo) da USP.
Pressão
Sérgio Morad, presidente do
Sindpark, entidade que representa os 8.000 estacionamentos regulares da cidade, diz que a atividade seria "discriminada" se a prefeitura forçasse a construção de
edificações em áreas reservadas
para carros.
Morad estima que cerca de 40%
dos estacionamentos estejam sobre terrenos, mas não sabe quantos ficam sobre áreas que podem
abrigar imóveis.
Uma das últimas versões do
projeto previa que estacionamentos subaproveitados dos distritos
centrais estivessem sujeitos à
construção forçada.
O vereador Celso Jatene (PTB),
que apoiou as reivindicações do
Sindpark, pressionou por mudanças no projeto. "Tem de fazer
uma transição", disse.
Na versão final do plano, as
áreas de estacionamento ficaram
entre aquelas que servem para atividades comerciais, mas não necessitam de edificações. Segundo
Bonduki, alguns depósitos de material de construção também podem ser incluídos nessa categoria,
assim como os postos de combustível e áreas verdes.
A lei remeteu para os planos regionais, que ainda serão elaborados e terão de passar pela Câmara,
a responsabilidade de avaliar
quais estacionamentos dos bairros poderão ficar sem edificações.
"Precisamos respeitar a especificidade dos bairros", disse Ermínia Maricato, coordenadora do
curso de pós-graduação da FAU e
ex-secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano do município (gestão Luiza Erundina).
"Mas não sabemos em que medida teremos informação e pessoal
para que isso seja aplicado e não
fiquemos nas mãos de um lobby."
Uso induzido
A prefeitura poderá induzir o
uso do solo em 55 dos 96 distritos
de São Paulo. Para cada área, no
entanto, será necessária uma lei
específica que regule as medidas.
Os coeficientes de aproveitamento mínimos dos terrenos exigidos (relação da área que se pode
construir com a do terreno) variam em cada zona criada pelo
plano, mas são baixos -o que facilita a adequação à lei. Somente
terrenos acima de 250 m2 poderão
ser enquadrados.
Os proprietários de imóveis que
não tiverem recursos para aproveitar suas áreas poderão ceder o
imóvel ao poder público e, em
troca, receber algumas das unidades edificadas ou ocupadas.
Mercado
O consultor do Secovi (sindicato das imobiliárias) Cláudio Bernardes diz que hoje são raros os
casos de proprietários que mantêm estacionamentos em áreas
valorizadas para simples "especulação". "O custo da manutenção
não compensa".
A corretora de imóveis Vera Suplicy disse que a família Matarazzo só mantém um estacionamento no terreno da esquina da avenida Paulista com a rua Pamplona
porque não encontra compradores para a área de 12.000 m2, avaliada em R$ 120 milhões.
O terreno pertence aos primos
em segundo grau de Vera, que é
irmã do senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), ex-marido da prefeita de
São Paulo, Marta Suplicy (PT).
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