São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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Consumo de bebida cai com orientação

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Cerca de 400 universitários que bebiam exageradamente estão participando de programa inédito para reduzir os danos do álcool sem que precisem parar de beber.
Depois de seis meses, completados agora, o número de acidentes provocados por eles caiu pela metade. Além disso, a grande maioria reduziu o consumo de bebida, melhorou o desempenho nos cursos e teve menos ansiedade.
O programa, aplicado a estudantes do primeiro ano da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) de Botucatu, segue modelo implantado por Alan Marlatt, titular de psicologia clínica, na Universidade de Washington (EUA).
O programa e os resultados parciais de Botucatu foram apresentados na 1ª Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos, encerrada na sexta-feira em Recife.
"O objetivo é reduzir as consequências nocivas para os jovens e para o entorno", diz Marlatt. "Não é preciso parar de beber para participar", diz Florence Kerr-Corrêa, titular de psiquiatria da Unesp e coordenadora do projeto. Esse pressuposto fez com que a maioria dos que revelaram em questionário beber em excesso participasse do programa.
Os "selecionados convidados" estavam no grupo que Florence classifica de "beber se embriagando", que não bebem todo dia, mas se embebedam a ponto de dar vexame, vomitar e não ir à aula.
Cerca de 25% dos jovens estavam no estágio de maior risco para acidentes de trânsito. Entre os que bebiam mais, 12% já tinham se acidentado. O programa consiste numa entrevista de uma hora que se repete duas semanas depois. O estudante informa sobre seu histórico familiar, suas práticas e expectativas, quanto bebe, quando, como e por que bebe.
Em troca, recebe informações e orientação individualizadas e fica sabendo, ao contrário do que pensava, que está no grupo que mais bebe e está correndo riscos. Aprende a avaliar o efeito de cada drinque e a adotar práticas como beber espaçadamente, tomar líquidos, não beber de estômago vazio e jamais dirigir embriagado.
"É uma entrevista motivacional, uma relação de empatia, não de confronto", diz Marlatt. "Mostramos os efeitos do álcool e damos apoio a qualquer iniciativa para diminuir os riscos e a bebida."
Os estudantes de Botucatu deverão ser seguidos por dois anos. Por conta dos resultados preliminares animadores, Florence e sua equipe já estão treinando professores de outras escolas, como a Unicamp, de Campinas.


Site do programa da Unesp-Botucatu: www.viverbem.fmb.unesp.br

Aureliano Biancarelli viajou a convite da Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos


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