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Muita pompa, circunstância e abobrinha batida
DA REVISTA DA FOLHA
Aos 18 anos, Edy Cardoso Alves deixou a casa na periferia de
Campinas (SP), onde almoçava
no bico do fogão, para ser levado à fazenda dos Matarazzo por
uma tia que era governanta por
lá, atrás de uma profissão.
Maria Pia, filha da condessa
Mariangela, foi responsável pelos ensinamentos de etiqueta e
postura de Edy, que há 23 anos
é o "damo mor" das residências
mais tradicionais de São Paulo.
Aos 41 anos, ele é um exímio
conhecedor de pinturas, por ter
trabalhado em casas de colecionadores. Seu preferido é o espanhol Pablo Picasso (1881-1973).
"Quando você entende o que se
passa na cabeça do artista, as
telas ganham sentido e é possível emocionar-se diante delas."
Além de ajudar os donos a escolherem o melhor lugar para
os quadros, é ele quem organiza
os menus das recepções. Vinhos, talheres, arranjos de flores, torta tostadinha para a madame e sapato italiano engraxado são assuntos de sua competência. Pelas tarefas, recebe
cerca de R$ 3.000 por mês.
Um dos maiores apuros foi
consertar às pressas um vestido
de debutante completamente
rasgado, horas antes da valsa da
meia-noite. No final, todos queriam saber quem era o figurinista da jovem. Ele, claro, não
revelou o feito, afinal, discrição
é sua grande virtude.
Edy, que já cuidou pessoalmente da rotina da família do
duque Frioli, da Croácia, conta
que aprendeu com o tempo a
gostar de viver em função do
outro. "Sei que vivo uma realidade que não é minha. Mas
penso que a única coisa que nos
diferencia é a conta bancária."
No entanto, os amigos de Edy
ficam cheios de medo quando
vão recebê-lo em casa. "Bobagem. Adoro um bom arroz com
abobrinha bem batidinha", diz.
Edy não se casou. Hoje, à mesa para comer com os irmãos,
ele continua se servindo no bico do fogão. Detalhe: com um
guardanapo de linho no colo.
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