São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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LUCIANA STEGAGNO PICCHIO (1920-2008)

O tesouro de Murilo Mendes em 80 caixas

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo dia, às 20h em ponto, Luciana Stegagno Picchio atendia o telefone. Do outro lado da linha, era o poeta brasileiro Murilo Mendes quem falava. Criaram esse hábito.
Quando a amiga a visitou em Roma, ouviu a confidência: em 13 de agosto de 1975, Luciana não soube o que fazer quando, às 20h, o telefone permaneceu calado. Murilo Mendes havia morrido.
Nascida em Alessandria, na Itália, Luciana era professora de literatura portuguesa e brasileira na Universidade de Roma. Em 1957, viu Murilo chegar à faculdade de letras, aos 56 anos, para dar aulas de cultura brasileira.
O poeta de Juiz de Fora (MG), que chegou a enviar um telegrama a Hitler para reclamar da invasão nazista à Áustria e a abrir o guarda-chuva dentro do teatro em protesto contra a desafinação do concerto, foi assistente de Luciana. Tornaram-se grandes amigos.
Autora de mais de 500 textos sobre literatura em língua portuguesa, foi responsável pelo lançamento de "Poesia Completa e Prosa", do escritor. Em casa, deixou um tesouro: 80 caixas com originais e anotações do poeta, que ela, em vida, prometeu doar ao Brasil -onde esteve por várias vezes. Luciana era membro correspondente da ABL (Academia Brasileira de Letras).
Em 2005, a amiga soube que ela teve um AVC (acidente vascular cerebral). Sofria de isquemia. Em conseqüência das doenças, morreu na quinta, aos 88, na Itália.

obituario@folhasp.com.br


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