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TRAGÉDIA NO AR
Piloto diz que só percebeu "leve impacto'; começa o resgate de corpos na floresta
À polícia tripulação do jato afirma não ter percebido que colidiu com o Boeing e que ainda voou meia hora antes de aterrissar
Equipes de resgate só encontraram fragmentos de corpos no local; peças da aeronave estão espalhadas em um raio de 500 metros
Alan Marques/Folha Imagem
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Na fazenda Jarinã, militares se preparam para resgate |
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A PEIXOTO DE AZEVEDO (MT)
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PEIXOTO DE AZEVEDO
Um "leve impacto" e nenhuma desconfiança de que haviam colidido com outro avião.
Essa foi a informação mais surpreendente do depoimento
prestado ontem por Joseph Lepour e Jan Palladino, piloto e
co-piloto do Legacy 600 que se
chocou com o Boeing 737-800
da Gol na sexta-feira.
Em depoimento à polícia de
Mato Grosso na madrugada de
ontem, Lepour e Palladino disseram não ter visto nada, nem
antes nem depois do que chamaram de um "leve impacto".
A caixa-preta do Legacy, que
registra o funcionamento dos
instrumentos de bordo e a comunicação entre pilotos e o
controle aéreo, está sendo analisada pelo CTA (Centro Técnico Aerospacial), em São José
dos Campos. "A única coisa que
dá para afirmar por enquanto é
que houve a colisão", disse a diretora da Anac Denise Abreu.
O resgate dos corpos das 155
vítimas começou ontem. Apenas fragmentos foram encontrados. "A situação é muito pior
do que qualquer um de nós possa imaginar", disse o comandante da operação, brigadeiro
Jorge Kersul Filho. Corpos
mutilados e peças da aeronave
estão espalhados em um raio de
até 500 metros.
O avião caiu de nariz e está
encoberto pela copa das árvores. Noventa militares estão
envolvidos na operação de resgate, que deve durar pelo menos uma semana.
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) e a FAB (Força
Aérea Brasileira) admitiram
ontem que não há chance de
haver sobreviventes. "Só um
milagre completo para haver
sobreviventes", afirmou o ministro da Defesa, Waldir Pires.
Em Cuiabá, os policiais levaram quase nove horas para ouvir os depoimentos dos sete
ocupantes do Legacy adquirido
da Embraer pela empresa de
táxi-aéreo norte-americana
ExcelAir Services. Todos foram
ouvidos, com a ajuda de intérpretes, na condição de vítimas.
Piloto e co-piloto disseram
ter seguido o plano de vôo à risca: estavam no piloto automático e voando na altura preestabelecida de 37 mil pés. Por volta
das 17h, sem que o sistema de
anticolisão acusasse a aproximação de outro avião, um choque desarmou o piloto automático, obrigando Lepour a controlar manualmente o aparelho, o que fez sem dificuldades.
Pela janela, os tripulantes
notaram que a ponta da asa esquerda estava danificada e decidiram aterrissar meia hora
depois na base aérea da serra do
Cachimbo.
Falaram sobre o incidente às
autoridades da Aeronáutica somente após o pouso, quando
disseram ter sido informados
do desaparecimento do avião
da Gol.
Segundo o delegado Anderson Garcia, um dos responsáveis por colher os depoimentos,
o testemunho dos passageiros
não destoou do prestado pelos
tripulantes. Também disseram
que não viram nada, que apenas ouviram o barulho causado
pelo choque.
O fato de não terem reportado o incidente pelo rádio despertou a desconfiança dos delegados. A polícia trabalha com a
hipótese de homicídio culposo.
Podem ser responsabilizados o
piloto e o co-piloto do jatinho e
controladores de tráfego aéreo,
se comprovada imperícia, imprudência ou negligência dos
envolvidos no acidente.
Além dos tripulantes, estavam no jato Ralph Michielli e
David Jeffrey Rimmer (proprietários da ExcelAir Services), o jornalista norte-americano Joe Sharkey, do "The New
York Times", e os funcionários
da área de vendas da Embraer
Henry Arthur Yendle (baseado
nos Estados Unidos) e Daniel
Bachmann, único brasileiro a
bordo.
Familiares
Em vez de prostração, raiva e
revolta. Ontem, parentes das
vítimas da queda do vôo 1907
pediram audiência com o ministro Waldir Pires e cobraram
das autoridades "posição mais
clara e imediata da situação
real do acidente". Foram constituídos comitês, e houve três
entrevistas coletivas organizadas pelos parentes das vítimas.
À tarde, um grupo foi ao aeroporto de Brasília tentar participar de uma entrevista que
seria concedida pela Anac.
Após relutância da agência em
recebê-los, familiares começaram a gritar. Ficou acertado
que a Anac divulgará dois boletins diários aos parentes.
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