|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RESGATE
"Situação é pior do que se pode imaginar"
Comandante da operação de resgate na selva afirma que será difícil localizar todos passageiros; corpos estão mutilados
Em Brasília, autoridades dizem que não há chance de existir sobreviventes; resgate dos corpos deve durar mais de uma semana
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A PEIXOTO DE AZEVEDO (MT)
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PEIXOTO DE AZEVEDO
Em um cenário de extrema
dificuldade de acesso e dantesco do ponto de vista humano,
com pedaços de corpos apodrecendo sob o forte calor e umidade da selva amazônica em
Mato Grosso, a equipe de resgate dos destroços do vôo Gol
1907 retirou ontem os primeiros fragmentos das vítimas do
maior desastre aéreo do país.
Em Brasília, a Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil) admitiu pela primeira vez que não
há chance de haver sobreviventes. "Só não sai um laudo oficial
porque contamos ainda com
um milagre", disse Denise
Abreu, diretora da agência. Já a
FAB (Força Aérea Brasileira)
divulgou nota confirmando que
não há sobreviventes.
O ministro da Defesa, Waldir
Pires, usou a mesma expressão.
"Só um milagre completo para
haver sobreviventes", disse. O
resgate dos corpos deverá durar no mínimo uma semana.
Os pedaços de dois corpos foram catalogados, ensacados e
enviados de helicóptero para
base da FAB montada na fazenda Jarinã, a cerca de 40 km do
local da queda do Boeing 737-800 da Gol, com 155 pessoas,
que chocou-se no ar com um
avião Legacy -que conseguiu
pousar.
"É muito difícil que a gente
consiga localizar todos os passageiros. A situação é muito
pior do que qualquer um de nós
possa imaginar", afirmou o comandante da operação, brigadeiro Jorge Kersul Filho.
Da fazenda, os fragmentos
humanos foram enviados num
avião Bandeirante para a Base
Aérea da Serra do Cachimbo, ao
norte. Lá já estão postados dois
caminhões frigoríficos para
conservar os restos até seu envio para o IML de Brasília.
Há 75 homens das Forças Armadas envolvidos na operação,
65 deles no solo. A perícia e coleta de dados de identificação
serão feitas no próprio lugar do
acidente. Já estão na base da fazenda oito peritos criminais,
cinco legistas e um datiloscopista (especialista em analisar
impressões digitais).
A acomodação de corpos em
sacos plásticos e a identificação
inicial de roupas e objetos pessoais estão sendo feitas no local. "Vai ser um trabalho moroso", disse Luciano Inácio, delegado especial designado pela
Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso para presidir o inquérito sobre o acidente
As dificuldades são diversas.
A clareira que começou a ser
aberta ainda na tarde de sábado, depois que dois militares foram jogados de pára-quedas no
local, só ficou pronta para uso
ontem. Na área há árvores de
até 40 metros, que tiveram de
ser cortadas. No final da tarde,
uma tempestade complicou
ainda mais a situação e pode retardar o término operação.
No sábado, 11 homens da
FAB e 5 do Exército já pernoitaram no local do acidente, tentando preservar o local de
eventuais animais selvagens
atraídos pelo cheiro de carne.
Os soldados desceram em cordas de rapel, de helicópteros.
Raio de 500 metros
Militares que já foram ao local do avião acidentado ouvidos
ontem pela Folha são unânimes em afirmar que a destruição foi enorme, com corpos
mutilados e peças da aeronave
espalhadas em um raio de até
500 metros.
O avião, segundo descrição
de militares que estiveram no
local, caiu de nariz e está encoberto pela copa das árvores.
A operação está sendo apoiada por dois helicópteros H-1H,
dois helicópteros H-60 Black
Hawk, um helicóptero H-34,
duas aeronaves R-99, um SC-95 Bandeirante e um C-130
Hércules, que levou as equipes
de resgate.
Houve oferta de auxílio aos
militares, que até agora não estão sendo consideradas pela
Força Aérea.
Ontem, no início da tarde, o
líder indígena Megaron Txucarramae, administrador da
Funai (Fundação Nacional do
Índio) em Colíder (MT), chegou à base na fazenda Jarinã
com a proposta de chegar ao local pelo rio Juriuna.
Megaron disse que com dez
guerreiros do parque nacional
do Xingu poderia chegar ao local de barco com mais rapidez
que os métodos empregados
até agora.
Fazendeiros da região também se ofereceram para auxiliar. É que em todas as fazendas
que circundam a região das
áreas indígenas de Kapoto e
Mectiture, as mais próximas do
avião acidentado, existem trabalhadores experimentados
com a floresta amazônica.
São os chamados mateiros,
homens acostumados a enfrentar os perigos da densa floresta
que vão desde picadas de várias
espécies de cobras venenosas,
ataques de queixadas, porcos
do mato muito agressivos.
Além disso, esta é a época do
ano em que as onças da região
estão com seus filhotes novos,
e ficam mais agressivas, para
protegê-los.
Ontem, uma equipe de segurança de vôo da Gol, chefiada
por Valter Chagas, chegou ao
local. "A hora não é de falar nada e procurar dar apoio às famílias dos acidentados", disse.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Piloto diz que só percebeu "leve impacto'; começa o resgate de corpos na floresta Próximo Texto: Frase Índice
|