São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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AÇÃO ORGANIZADA

Mobilização aconteceu na madrugada de ontem; após intervenção da polícia, três prédios foram desocupados

Sem-teto invadem 7 imóveis em São Paulo

FERNANDA FERNANDES
VICTOR RAMOS

DA REPORTAGEM LOCAL

Numa ação coordenada, grupos de sem-teto invadiram simultaneamente cinco prédios, um antigo salão de baile e uma fábrica abandonada, no início da madrugada de ontem em São Paulo.
De acordo com o MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro), a ação mobilizou cerca de 3.500 trabalhadores sem-teto e 45 ônibus. Para a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, cerca de 1.500 militantes participaram das invasões. No final da tarde, quatro imóveis permaneciam ocupados.
Segundo o grupo, o objetivo é protestar contra a política habitacional dos governos federal, estadual e municipal e abrir canais de negociação com o poder público.
Ivanete de Araújo, coordenadora-geral do MSTC, disse que as invasões já estavam programadas há cerca de três meses e não têm nenhuma relação com a disputa eleitoral.
"Nossa luta é contínua, porque não há recursos para a habitação. O governo estadual ignora o problema, o governo municipal ficou aquém do esperado", disse.
As invasões foram feitas em diversos locais da cidade. Na região central, nos bairros Campos Elíseos, Bexiga e Bom Retiro, na zona leste, em São Mateus, e na zona norte, na Casa Verde.
Os trabalhadores se organizaram na "Frente de Luta", congregando 12 movimentos de reivindicação pela moradia da cidade, como MTSC, MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-teto da Região Central), Unas (União dos Núcleos, Associações e Sociedades do Heliópolis), Campo Alegre, Campo Forte, Movimento da Região da Mooca, entre outros.
Segundo Araújo, a maioria das pessoas envolvidas na ocupação são moradores de favela e cortiços e algumas em situação de rua.
Cláudia dos Reis, 29, morava em uma barraco emprestado em Nazaré Paulista (56 km a noroeste de São Paulo) com seus quatro filhos -o mais velho de sete anos e o mais novo de quatro meses.
Ela disse que ficou sabendo do movimento em reuniões no bairro onde morava. Soube apenas anteontem que iria participar de uma invasão numa antiga fábrica abandonada no bairro do Bom Retiro -um grande galpão, sem luz elétrica e sem água encanada.
"Sonho em ter um endereço fixo, uma casa digna. As crianças estão achando isso um passeio."

Estratégias
Na rua Rêgo Freitas (região central), os sem-teto trancaram a entrada principal com cadeados.
Segundo Lizete Gomes, uma das coordenadoras do MSTC, mais de 80 pessoas participaram da ação. A polícia afirma que apenas 40 manifestantes entraram no local e mais de 300 pessoas permaneceram na rua.
Gomes afirma que houve truculência por parte de policiais militares após a ocupação do prédio vazio do INSS na rua Conselheiro Crispiniano,125 (região central).
Segundo ela, os soldados entraram pelos fundos de um edifício vizinho, lançaram bombas de gás lacrimogêneo e expulsaram os sem-teto. Ninguém ficou ferido.
O prédio da rua Conselheiro Carrão também foi liberado após intervenção policial. O imóvel da Barão de Piracicaba foi desocupado após uma negociação entre o movimento e a polícia.

Outro lado
O coronel Alberto Silveira Rodrigues, comandante-geral da Polícia Militar, afirmou que oito policiais agiram para manter a ordem e precisaram usar munição química para evitar que os prédios fossem invadidos. Segundo ele, a agressão partiu dos sem-teto, que começaram jogando pedras nos policiais.
"A agressão começou na tentativa de invadir prédios, desrespeitando a lei. Eles agridem e depois se colocam no lugar de vítimas", afirmou o coronel.


Colaborou RACHEL AÑÓN, da Agência Folha



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