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Operação-padrão foi articulada informalmente por militares
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A redução da atividade dos
controladores de tráfego aéreo
em Brasília não foi articulada
de maneira sindical. Não houve
assembléia nem reunião, mas
somente uma iniciativa informal de um pequenos grupos,
que ganhou a adesão dos demais num movimento boca-a-boca, segundo um profissional
que trabalha no Cindacta-1.
José Ulisses Fontenele Figueira, ex-presidente e fundador da associação brasileira dos
controladores, diz que a situação foi agravada pelo pedido de
licença médica, por estresse, de
dez profissionais nos últimos
dias -que se somaram aos oito
que já afastados devido ao acidente com o vôo 1907 da Gol.
Em Brasília, são 236 profissionais atuando no controle de
tráfego, entre civis e militares.
Dois operadores de Brasília
disseram à Folha que sempre
houve supervisores que aceitavam e outros que não toleravam ultrapassar os limites definidos pelos manuais. Nos últimos dez dias, ao sentir que os
resistentes ganhavam força, a
adesão aumentou, causando
um efeito cascata.
A Folha apurou que, numa
reunião tensa em Brasília na
semana passada, um brigadeiro
ameaçou prender quem oferecesse resistência. Disse, na
frente dos controladores, que a
situação só seria resolvida
quando fizesse a detenção de
"meia dúzia" por motim.
Figueira foi um dos convocados para a reunião com outros
oficiais da reserva, em Brasília,
convidados a voltar a operar
em razão da crise. Ele disse que
a adesão foi pequena.
Motivo
Uma medida tomada na semana passada pela Aeronáutica, a reboque da queda do
Boeing, levou os controladores
de Brasília a retardar a chegada
ou saída de vôos, com atrasos
em todos os aeroportos do país:
dobrar a área monitorada por
alguns operadores do radar.
Com a ausência de 18 controladores, o Cindacta-1 cancelou
alguns "setores" -áreas do espaço aéreo acompanhadas por
pessoal em terra. Esses perímetros foram, então, incorporados a outros. Cada setor é fiscalizado por um controlador.
O problema é que a legislação
estabelece um número máximo
de vôos controlados por instante. Se os aviões na tela ultrapassarem 14, dá-se início ao controle de fluxo, que significa retardar outras aeronaves, em solo ou em deslocamento.
Com a fusão de setores, um
controlador que acompanhava
14 vôos poderia vigiar 28 no
instante seguinte. Para evitar
este problema, que afeta a segurança, foi determinado o
atraso nas decolagens.
Conforme Jorge Oliveira,
presidente da associação de
controladores do Rio, o setor
vive um déficit que gira de 400
a 500 profissionais nos últimos
20 anos, período no qual não
houve concursos para reposição de vagas. Dos controladores no país, 2.212 são militares e
571 civis, diz a Aeronáutica.
"Pois é"
O presidente do Sindicato
Nacional dos Trabalhadores
em Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, avaliou ontem que a subordinação dos controladores à
Aeronáutica engessa a solução
dos problemas. Disse ele que o
comando foi informado repetidas vezes sobre os problemas
estruturais da carreira e da necessidade de ampliação do número de funcionários.
Mas, a julgar pela resposta do
ministro da Defesa, Waldir Pires, as queixas não foram repassadas para cima. Depois de
dizer que não sabia dos problemas e indagado sobre quais outros os comandantes não o informam, Pires foi lacônico:
"Pois é. Essa é a verdade."
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