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Paulistanos tiram a roupa por arte e por trabalho
Atrizes, strippers e ciclistas desafiam moralismo e ficam pelados em público
Nórdicos encaram melhor a nudez que os brasileiros, afirma pesquisadora; para ela, São Paulo é uma cidade de valores morais familiares
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
Uma nordestina que posa há
47 anos para desenhistas. Uma
stripper que iniciou a carreira
em uma boate de Alphaville. E
o líder de um grupo de pelados
que pedala pela cidade. Um dia,
ao menos, todos se despiram
em público em São Paulo.
E todos concordam: mesmo
depois das cinco décadas entre
o liberalismo sexual dos anos
60 e os dias de hoje, ficar nu
ainda é motivo para discussões.
Tem gente que encara com
naturalidade, como o artista
Maurício Ianês, que vai ficar nu
na Bienal de Artes de São Paulo.
As vozes dissonantes, no entanto, podem vir de bocas menos óbvias, como a do ator Pedro Cardoso, autor de um manifesto contra a exploração da
nudez no meio artístico.
"Dizer que toda nudez é erótica limita a capacidade de
compreensão do público. Tem
gente que se emociona quando
vê nudez", diz a atriz Evelyn Ligocki, 29, em cartaz no Espaço
dos Satyros 1. Para ela, a opinião de Cardoso é "absurda".
Entre os que defendem o nu,
há pessoas que sabem bem o
peso do artigo 233 do Código
Penal, que prevê detenção de
três meses a um ano, ou multa,
para quem for enquadrado por
atentado violento ao pudor. É o
caso do advogado Lucas Weglinski, 28, que hoje integra o
elenco do Teatro Oficina.
Além das questões legais, a
nudez envolve aspectos culturais. "Nos países nórdicos, por
exemplo, é vista com naturalidade", diz Denise Bernuzzi de
Sant'Anna, pesquisadora de
história da beleza da PUC-SP.
Para a especialista, São Paulo, especificamente, é uma cidade de valores morais ligados
à idéia da família. Uma espécie
de contrapeso à origem determinada pela instabilidade de
forasteiros como os imigrantes.
A contradição fica evidente
com os dados da Associação
Brasileira de Empresas do
Mercado Erótico. O mercado
erótico, diz a associação, movimenta R$ 800 milhões por ano
no país. Uma pesquisa da fornecedora de softwares Symantec aponta, ainda, que 55% dos
brasileiros acessam sites de
pornografia.
Cai, aqui, como uma luva o
aforismo da escritora portuguesa Faíza Hayat: "A nudez,
sozinha, não é assim tão erótica; precisa que lhe ponham um
trapinho em cima".
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