São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paulistanos tiram a roupa por arte e por trabalho

Atrizes, strippers e ciclistas desafiam moralismo e ficam pelados em público

Nórdicos encaram melhor a nudez que os brasileiros, afirma pesquisadora; para ela, São Paulo é uma cidade de valores morais familiares

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

Uma nordestina que posa há 47 anos para desenhistas. Uma stripper que iniciou a carreira em uma boate de Alphaville. E o líder de um grupo de pelados que pedala pela cidade. Um dia, ao menos, todos se despiram em público em São Paulo.
E todos concordam: mesmo depois das cinco décadas entre o liberalismo sexual dos anos 60 e os dias de hoje, ficar nu ainda é motivo para discussões.
Tem gente que encara com naturalidade, como o artista Maurício Ianês, que vai ficar nu na Bienal de Artes de São Paulo.
As vozes dissonantes, no entanto, podem vir de bocas menos óbvias, como a do ator Pedro Cardoso, autor de um manifesto contra a exploração da nudez no meio artístico.
"Dizer que toda nudez é erótica limita a capacidade de compreensão do público. Tem gente que se emociona quando vê nudez", diz a atriz Evelyn Ligocki, 29, em cartaz no Espaço dos Satyros 1. Para ela, a opinião de Cardoso é "absurda".
Entre os que defendem o nu, há pessoas que sabem bem o peso do artigo 233 do Código Penal, que prevê detenção de três meses a um ano, ou multa, para quem for enquadrado por atentado violento ao pudor. É o caso do advogado Lucas Weglinski, 28, que hoje integra o elenco do Teatro Oficina.
Além das questões legais, a nudez envolve aspectos culturais. "Nos países nórdicos, por exemplo, é vista com naturalidade", diz Denise Bernuzzi de Sant'Anna, pesquisadora de história da beleza da PUC-SP.
Para a especialista, São Paulo, especificamente, é uma cidade de valores morais ligados à idéia da família. Uma espécie de contrapeso à origem determinada pela instabilidade de forasteiros como os imigrantes.
A contradição fica evidente com os dados da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico. O mercado erótico, diz a associação, movimenta R$ 800 milhões por ano no país. Uma pesquisa da fornecedora de softwares Symantec aponta, ainda, que 55% dos brasileiros acessam sites de pornografia.
Cai, aqui, como uma luva o aforismo da escritora portuguesa Faíza Hayat: "A nudez, sozinha, não é assim tão erótica; precisa que lhe ponham um trapinho em cima".


Texto Anterior: Em menos de 24 h, dois corpos são achados carbonizados em SP
Próximo Texto: Violência: Mãe é acusada de espancar filha de 4 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.