São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RAP
Gustavo, 24, aprende com
Racionais MC's

da Reportagem Local

Quando não está no fórum, o juiz Gustavo Antonio Pieroni Louzada, 24, gosta de escutar rap.
Ouve principalmente os Racionais MC's, o grupo brasileiro mais popular do gênero, notório por criticar a violência policial contra os pobres e por duvidar da imparcialidade das leis.
"O rap é revelador. Permite que conheçamos melhor as gírias da rua e a mentalidade da periferia. Entre juízes, costuma-se dizer, em tom de brincadeira, que os Racionais falam a língua dos réus."
Formado há apenas dois anos, Gustavo ascendeu rapidamente na magistratura. Tomou posse como juiz substituto em novembro de 97 e, seis meses depois, já se tornou titular. Hoje está à frente da 2ª Vara de Paraguaçu Paulista (a 510 km de SP).
"Preocupo-me muito em não perder a sintonia com a população." Daí o gosto pelo rap, mas também o olhar crítico que lança sobre certas recomendações do Tribunal de Justiça de São Paulo.
O órgão máximo do Poder Judiciário no Estado aconselha que os juízes sejam "modelos de conduta" e sigam uma série de normas comportamentais. Por exemplo: devem evitar álcool em público, preferir roupas formais, não exibir tatuagens, nunca receber ninguém no fórum a portas fechadas e recusar presentes valiosos.
"Algumas regras fazem sentido", reconhece Gustavo. "Outras guardam um evidente ranço conservador. Passam a idéia de que os magistrados estão acima da sociedade e não se misturam. Claro que um juiz precisa se portar com moderação, mas não pode jamais se isolar do mundo."
Fora do expediente, "para não parecer diferente de ninguém", Gustavo sai "de bermuda e chinelo" na rua. "Também tomo meu chopinho. E, se me interessasse por tatuagem, usaria. Reprimi-la seria preconceito." (AA)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.