São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2001

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EDUCAÇÃO

Para especialistas, governo poderá reduzir orçamento de universidades se for adotada cobrança de mensalidades

Professores temem prejuízo à pesquisa

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Professores, reitores e pesquisadores ouvidos pela Folha dizem que cobrar mensalidades em instituições públicas de ensino superior não seria suficiente para financiar a pesquisa nessas escolas. Pesquisa e extensão consomem, por exemplo, cerca de 70% do orçamento das estaduais paulistas.
O temor é que o governo reduza o orçamento de universidades, inviabilizando o avanço da pesquisa. Reitores e a UNE (União Nacional dos Estudantes) dizem que o debate sobre a cobrança não pode estar atrelado às exigências do Fundo Monetário Internacional.
Relatório elaborado pelo FMI diz que a cobrança de mensalidades em universidades públicas "iria liberar mais recursos para financiar os ensinos fundamental e médio" e que o ensino superior público gratuito beneficia a parcela mais rica da população.
Pesquisadores favoráveis à cobrança, como José Márcio Camargo (PUC-Rio), dizem que 8 de cada 10 universitários pertencem à parcela dos 40% mais ricos do país e que é contra-senso serem financiados com recurso público.
O ex-reitor da Unicamp José Martins Filho diz que as universidades públicas podem até usar recursos de mensalidades para ampliar o crédito educativo, mas que o governo não deve deixar de financiar pós-graduação, hospitais universitários e pesquisa.
Adolpho José Melfi, reitor em exercício da USP, disse por meio de assessoria que a instituição é absolutamente contrária à cobrança porque o ensino e a pesquisa não podem ser dissociados.
A UNE, segundo seu presidente, Wadson Ribeiro, 24, é "absolutamente contrária" à cobrança, especialmente porque a discussão está sendo influenciada pelas exigências do FMI sobre o pagamento da dívida externa e pela retração do Estado nas questões sociais, como saúde e educação.
Lorenzo Perez, representante do FMI no Brasil, disse ontem que o fundo não teve intenção de propor a cobrança e que a sugestão deve ser analisada dentro do contexto. Mas ele disse que o FMI acredita que a adoção da medida traria vantagens ao ensino público. Para o fundo, diz, a verba da área social é mal distribuída e não beneficia os mais pobres.
A reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Wrana Panizzi, diz que a idéia "mexe com a soberania nacional" e que 44% de seus alunos trabalham para estudar e 30% usam o restaurante universitário (subsidiado).
"O FMI não tem de opinar nas questões nacionais", disse o reitor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Francisco César de Sá Barreto, também vice-presidente da Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Segundo ele, qualquer mudança no financiamento das universidades deve ser precedida de uma ampla discussão nacional.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Agência Folha



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