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EDUCAÇÃO
Para especialistas, governo poderá reduzir orçamento de universidades se for adotada cobrança de mensalidades
Professores temem prejuízo à pesquisa
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Professores, reitores e pesquisadores ouvidos pela Folha dizem
que cobrar mensalidades em instituições públicas de ensino superior não seria suficiente para financiar a pesquisa nessas escolas.
Pesquisa e extensão consomem,
por exemplo, cerca de 70% do orçamento das estaduais paulistas.
O temor é que o governo reduza
o orçamento de universidades, inviabilizando o avanço da pesquisa. Reitores e a UNE (União Nacional dos Estudantes) dizem que
o debate sobre a cobrança não pode estar atrelado às exigências do
Fundo Monetário Internacional.
Relatório elaborado pelo FMI
diz que a cobrança de mensalidades em universidades públicas
"iria liberar mais recursos para financiar os ensinos fundamental e
médio" e que o ensino superior
público gratuito beneficia a parcela mais rica da população.
Pesquisadores favoráveis à cobrança, como José Márcio Camargo (PUC-Rio), dizem que 8 de
cada 10 universitários pertencem
à parcela dos 40% mais ricos do
país e que é contra-senso serem financiados com recurso público.
O ex-reitor da Unicamp José
Martins Filho diz que as universidades públicas podem até usar recursos de mensalidades para ampliar o crédito educativo, mas que
o governo não deve deixar de financiar pós-graduação, hospitais
universitários e pesquisa.
Adolpho José Melfi, reitor em
exercício da USP, disse por meio
de assessoria que a instituição é
absolutamente contrária à cobrança porque o ensino e a pesquisa não podem ser dissociados.
A UNE, segundo seu presidente,
Wadson Ribeiro, 24, é "absolutamente contrária" à cobrança, especialmente porque a discussão
está sendo influenciada pelas exigências do FMI sobre o pagamento da dívida externa e pela retração do Estado nas questões sociais, como saúde e educação.
Lorenzo Perez, representante
do FMI no Brasil, disse ontem que
o fundo não teve intenção de propor a cobrança e que a sugestão
deve ser analisada dentro do contexto. Mas ele disse que o FMI
acredita que a adoção da medida
traria vantagens ao ensino público. Para o fundo, diz, a verba da
área social é mal distribuída e não
beneficia os mais pobres.
A reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Wrana
Panizzi, diz que a idéia "mexe
com a soberania nacional" e que
44% de seus alunos trabalham para estudar e 30% usam o restaurante universitário (subsidiado).
"O FMI não tem de opinar nas
questões nacionais", disse o reitor
da UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), Francisco César
de Sá Barreto, também vice-presidente da Associação Nacional das
Instituições Federais de Ensino
Superior (Andifes). Segundo ele,
qualquer mudança no financiamento das universidades deve ser
precedida de uma ampla discussão nacional.
Colaboraram a Sucursal de Brasília e a
Agência Folha
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