São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Dados do governo são confiáveis, diz Ministério da Saúde

Pasta afirma que existem alguns problemas, mas OMS considera de boa qualidade as informações brasileiras sobre mortalidade

Governo paulista desconhece razão do aumento de casos de "intenção indeterminada" e reafirma que índices de homicídios estão em queda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para a SVS (Secretaria de Vigilância em Saúde), do Ministério da Saúde -um dos responsáveis pela divulgação do "Mapa da Violência"-, apesar de haver problemas, os dados disponibilizados pelo governo são confiáveis e bem avaliados por organismos internacionais.
"Segundo a OMS [Organização Mundial da Saúde], as informações de mortalidade brasileira são de boa qualidade. Têm um percentual baixo de causas mal definidas", disse Otaliba Libânio, da SVS.
Mal definidas incluem causas desconhecidas pelo médico, certidão de óbito mal preenchida ou quem morreu sem assistência médica e não foi possível identificar a causa. No ano passado, 8,5% das mortes do país foram registradas assim.
Há também problemas de subnotificação, quando não é feito o registro do óbito. "Muito da subnotificação é de pessoas que morrem em casa, de morte natural. A gente acredita que a subnotificação de mortes violentas seja muito pequena."
Conforme Libânio, houve queda no índice de causas mal definidas e isso se deve a um trabalho de investigação e à adoção de sistemas modernos de acompanhamento, como a inserção de dados pela internet no SIM (Subsistema de Informação sobre Mortalidade).
"A gente acompanha a média de mortes do ano anterior e o que é esperado para o ano em questão. Se há menos óbitos do que o esperado, vamos atrás para ver se o número caiu ou se o sistema não foi alimentado corretamente. A vantagem do SIM na internet é que você acompanha os dados na medida em que eles são digitados", afirmou.

São Paulo
O sociólogo Túlio Kahn, responsável pela Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, disse não saber explicar os motivos que levaram à explosão dos números de "intenção indeterminada" no Estado, já que o sistema de coleta de dados melhorou porque começou a identificar os casos envolvendo armas de fogo.
Ele nega, porém, haver manipulação de dados e diz que, mesmo com a inclusão de todos os números de não-determinados, ainda há redução de homicídios. "Mesmo somando esses casos, dá queda. Que está tendo, está. Lógico que o aperfeiçoamento ajudaria a saber cada qualidade de morte, o que está realmente estável, o que está subindo", disse. "É melhor trabalhar com dado precário do que com dado nenhum."
Kahn afirma que o uso dos dados do Datasus para falar de violência não é adequado e, por isso, relativiza o valor da pesquisa. "A preocupação deles [Ministério da Saúde], qual é? Eles têm uma rede hospitalar e precisam dar esse atendimento. Para eles é um corpo vítima de agressão. Eles querem saber quantos médicos, quantos leitos criam. A gente que tem essa qualificação que é jurídica."
Para o ex-secretário paulista da Segurança Pública Marco Vinício Petrelluzzi, mais importante que os números absolutos é a incontestável tendência de queda. "Isso é mais ou menos como você pegar a inflação medida pela Fipe, pela FGV, pelo não sei o que lá. O número que dá em cada um não é importante. Porque cada um usa uma base de dados diferente. O importante é ver que em qualquer um dos índices a tendência é a mesma", afirmou.
Segundo ele, as pessoas não querem acreditar que "se faz algo sério neste país" e que as coisas melhoram. "Então, tem que ter alguma mutreta. Quando começaram a cair os números, eu fui acusado de fazer maquiagem. Hoje, todo mundo aceita que desde 1999 está caindo." (JOHANNA NUBLAT, ROGÉRIO PAGNAN e EVANDRO SPINELLI)

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