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Nélson Rodrigues e a fé do "rei da vela"
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O devoto de Santa Rita não
esquecia de acender a vela ou
cobrir a imagem de flores no
altar da loja. Pois, se Nélson
Ferreira Rodrigues era o "rei
da vela", foi graças ao faro para vender -e ao nome dela.
Nasceu em São Paulo em
1921, ano em que os pais chegaram de Portugal. Passou
uma infância marcada pelo
futebol e pela "Revolução de
1932", quando era escoteiro e
fora tocado no queixo pelo
governador Pedro de Toledo,
na visita ao campo de treinamento dos soldados.
Bons tempos, que deixou
de lado para pôr um chapéu e
"virar adulto", como contínuo do escritório de importados europeus. Estudou então contabilidade e foi ser auxiliar de contador em uma
fábrica de cachimbos.
Mas logo caiu na produção
-apaixonado pela transformação da madeira "no objeto
de arte que é o cachimbo". E
achava engraçado que os ingleses, nos esforços de importação da guerra, tivessem
que fumar em cachimbos
brasileiros, de imbuia.
Até que foi trabalhar com o
pai na leiteria e loja de velas.
"A loja era leiteria e velas,
coisa meio estranha, mas as
velas na época eram feitas de
sebo de gado, né, e o leite
também vinha do gado então
há um correlato, né?" Esse
era o Rodrigues bom de lábia,
que tudo explicava em detalhes. Logo ganhou freguesia,
na Casa de Velas Santa Rita.
O faro de Rodrigues identificou um nicho nas imagens
religiosas, especialmente na
umbanda, quando o "mercado era enrustido". O que começou com uma fabriqueta
virou a Imagens Bahia, onde
hoje se fazem 300 mil imagens de gesso por ano.
Até dezembro se podia vê-lo na loja de velas, mas o coração de 88 anos começou a
doer. Tinha três filhos, seis
netos e um bisneto. Morreu
na segunda, de infarto.
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