São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Nélson Rodrigues e a fé do "rei da vela"

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O devoto de Santa Rita não esquecia de acender a vela ou cobrir a imagem de flores no altar da loja. Pois, se Nélson Ferreira Rodrigues era o "rei da vela", foi graças ao faro para vender -e ao nome dela.
Nasceu em São Paulo em 1921, ano em que os pais chegaram de Portugal. Passou uma infância marcada pelo futebol e pela "Revolução de 1932", quando era escoteiro e fora tocado no queixo pelo governador Pedro de Toledo, na visita ao campo de treinamento dos soldados.
Bons tempos, que deixou de lado para pôr um chapéu e "virar adulto", como contínuo do escritório de importados europeus. Estudou então contabilidade e foi ser auxiliar de contador em uma fábrica de cachimbos.
Mas logo caiu na produção -apaixonado pela transformação da madeira "no objeto de arte que é o cachimbo". E achava engraçado que os ingleses, nos esforços de importação da guerra, tivessem que fumar em cachimbos brasileiros, de imbuia.
Até que foi trabalhar com o pai na leiteria e loja de velas. "A loja era leiteria e velas, coisa meio estranha, mas as velas na época eram feitas de sebo de gado, né, e o leite também vinha do gado então há um correlato, né?" Esse era o Rodrigues bom de lábia, que tudo explicava em detalhes. Logo ganhou freguesia, na Casa de Velas Santa Rita.
O faro de Rodrigues identificou um nicho nas imagens religiosas, especialmente na umbanda, quando o "mercado era enrustido". O que começou com uma fabriqueta virou a Imagens Bahia, onde hoje se fazem 300 mil imagens de gesso por ano.
Até dezembro se podia vê-lo na loja de velas, mas o coração de 88 anos começou a doer. Tinha três filhos, seis netos e um bisneto. Morreu na segunda, de infarto.


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