São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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ESPERANÇA

Ex-usuário de drogas e a mulher esperam ajuda do governo para fazer reprodução assistida

"Minha médica me disse para desistir"

DA REPORTAGEM LOCAL

A assistente administrativa M.L., 31, está casada há 12 anos com o soropositivo R.S., 40, técnico em eletrônica. O casal luta para ter um filho com segurança. A seguir, o depoimento dela:

 

Conheci R. em 1993. Eu tinha 19 anos e ele, 29. R. havia sido usuário de drogas e, em 1991, após ver muitos colegas morrerem, fez um exame, mas não foi buscar o resultado. Adotou uma alimentação naturalista/macrobiótica e ficou em processo de negação. Eu também participei dessa negação/ignorância.
Em 1999, fiz exames para uma cirurgia e deu negativo. Isso para ele (e para mim) confirmou que ele não tinha o vírus. Em 2000, engravidei, fiz exames e tudo deu ok, mas tive parto prematuro e o bebê morreu.
O nosso mundo desabou em maio de 2003. Ele estava com um sangramento no nariz e o otorrino notou o sapinho na língua. Então pediu exames e ficou confirmado o vírus HIV. Minha ginecologista me pediu exames: tive dois resultados negativos. Ela disse que eu tinha sorte, e que deveria usar preservativo.
Ficamos desolados. O fato é que eu já estava sonhando com outro bebê quando descobrimos a doença. O médico indicou a terapia anti-retroviral. Ele se recusou e preferiu continuar como naturalista/macrobiótico.
Em junho de 2004, teve problemas: meningite TB (tuberculosa). Ele ficou internado uma semana. Começou a tomar o "coquetel" em setembro. Hoje ele está com carga viral indetectável e outros exames normalizados.
Minha médica praticamente me disse para desistir, para eu adotar. Não descartamos isso. Descobrimos que a ICSI é a única maneira segura de gravidez.
É duro ver tantos casais amigos tendo seus filhos e, nós, sentindo aquele vazio. É difícil continuar "socialmente normal" quando, na verdade, somos diferentes. Nós dois sonhamos muito com um bebê nosso, biologicamente. Procuramos uma clínica particular, que oferece tratamento de baixo custo, mas lá recebemos a negativa. Nossa esperança agora é esse projeto.


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