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JUVENTUDE ENCARCERADA
Psicóloga foi demitida por não impor castigo aos menores da Febem; dois assessores entregaram cargos
Diretora cai por recusar "tranca coletiva"
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com 18 anos de atuação na área
da infância e juventude, a psicóloga Elizete Aparecida Rossoni Miranda, 45, não chegou a completar um mês na Febem (Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor). Foi demitida do cargo de diretora do complexo da Vila Maria
(zona norte de São Paulo), um
dos mais problemáticos da fundação, por se negar a cumprir medidas de segurança determinadas
pela Febem, entre elas a chamada
"tranca coletiva". Dois assessores
também anunciaram a demissão
em solidariedade.
Segundo Elizete, que assumiu o
cargo no meio do projeto de reestruturação da Febem, as medidas
de contenção e punição adotadas
pela fundação contrariam o projeto pedagógico anunciado pelo
governo Geraldo Alckmin
(PSDB). Ela também reclama de
falta de pessoal e estrutura (leia
entrevista nesta página).
De acordo com a Febem, a psicóloga não se adaptou à nova realidade da instituição. A instituição
informou que Elizete foi demitida
por resistir a implantar medidas
de segurança determinadas.
Para entidades que acompanhar a reestruturação na Febem, a
demissão mostra o agravamento
de um problema. "Não há uma
sintonia entre a área da segurança
e a área pedagógica, situação
agravada agora com a separação
das funções entre educadores sociais e agentes de segurança", afirmou Ariel de Castro Neves, do
Movimento Nacional dos Direitos Humanos.
"Elizete é reconhecida por seu
trabalho na área, e a sua demissão
é lamentável. Ela estava tentando
conquistar a confiança dos internos", disse Conceição Paganele,
presidente da associação de mães.
O estopim para a saída de Elizete aconteceu anteontem, quando
uma das unidades do complexo
teve fuga de 39 internos. A ordem
da Febem, segundo ela, era que
que todos os internos da unidade
fossem trancados.
Mas, segundo ela, não havia
condições para isso. "Não havia
ferrolhos e cadeados nem funcionários para fazer isso", disse. No
final do dia, ela foi demitida. Ontem, internos de três unidades
-duas não participaram da confusão- estavam trancafiados.
Desde que assumiu o cargo, Elizete diz que tenta evitar arbitrariedades na área da segurança. De
acordo com ela, a tropa de choque
da Polícia Militar tem sido chamada pelo setor de segurança sem
sua permissão. "A entrada tem de
ocorrer em casos excepcionais",
afirmou.
Segundo ela, a Febem também
contraria o regimento da instituição ao implantar a "tranca coletiva". Ela cita o parágrafo primeiro
do artigo 21, que estabelece que as
"sanções disciplinares respeitarão
os direitos fundamentais e a individualização da conduta dos adolescentes, sendo vedadas as punições coletivas".
Para Elizete, além de contrariar
o regimento, a "tranca coletiva"
acaba influindo negativamente
sobre o trabalho pedagógico. "É
preciso ter disciplina sim. Mas como recuperar o projeto pedagógico depois de uma tranca coletiva
na qual mesmo os que não cometeram erros foram punidos?"
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