São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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MASSACRE NA BAIXADA

Testemunha diz que PM detido participou de matança no Rio

MÁRIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Ana Carolina Fernandes/FI
Parentes exibem faixa pedindo justiça durante enterro de vítimas da chacina que deixou 30 mortos; familiar de um dos assassinados desmaia em cemitério


Uma testemunha reconheceu o soldado da PM Fabiano Gonçalves, 30, como um dos participantes da chacina de 30 pessoas na noite de quinta-feira nas cidades de Queimados e Nova Iguaçu, região metropolitana do Rio. O policial nega a participação.
Fabiano Gonçalves e o também PM José Augusto Moreira Felipe, 32, ambos do 24º Batalhão de Queimados (Baixada Fluminense), foram detidos ontem e prestaram depoimento. Uma testemunha, cujo nome é mantido em sigilo, reconheceu Gonçalves como participante do crime, mas não Felipe, segundo a polícia.
O chefe da Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, afirmou que será pedida a prisão temporária por 30 dias de Gonçalves. Felipe deve ser mantido em detenção provisória por pelo menos 72 horas.
Nas casas dos dois PMs, ambos de licença médica, a polícia apreendeu uma escopeta, uma pistola ponto 40 (mesmo modelo do usado no massacre), roupas e uma moto. Um dos PMs estava baleado no braço e atribuiu o ferimento a um assalto.
Os encarregados da investigação disseram que a suspeita contra os PMs surgiu por terem "fama de matadores" na região da Baixada, além de terem agido com truculência em ações policiais. Os dois respondem a processos sob acusação de abuso de autoridade.
A polícia também investiga a hipótese de que um grupo de extermínio, do qual fariam parte policiais, seria responsável pela chacina. Segundo policiais da 58ª DP (Posse, em Nova Iguaçu), há dois anos uma investigação apontou a existência de um grupo desses em Austim, distrito de Nova Iguaçu.
O serviço do Disque Denúncia está oferecendo uma recompensa de R$ 5.000 para quem fornecer informações que ajudem na captura do assassinos.
Dois dias após a matança, as ruas do bairro da Posse -onde morreram 12 pessoas- não tinham policiamento, apesar de a Secretaria de Segurança ter anunciado reforço para o local. O secretário, Marcelo Itagiba, determinou ao delegado Paulo Souto, que coordena as investigações, que todas as testemunhas do crime recebam proteção policial.
Segundo a secretaria, o massacre deve ter sido uma retaliação de PMs contra investigações abertas na própria corporação por comandantes dos batalhões da região. A chacina na Baixada ocorreu em cerca de uma hora. Os criminosos utilizaram um Gol prata e circularam pelas ruas atirando nas pessoas sem ter um alvo definido. Das 30 vítimas, apenas duas possuíam ficha criminal. Sete tinham menos de 18 anos.


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