São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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CRIME NO JUDICIÁRIO

Para advogado, há mais envolvidos no assassinato, de 2003

Pai de juiz morto no Espírito Santo acredita em complô de magistrados

EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA

Em meio à reviravolta nas investigações da morte do seu filho, com a prisão do juiz Antônio Leopoldo Teixeira, indiciado como mandante do crime, o advogado Alexandre Martins de Castro, 59, em entrevista exclusiva à Folha, declarou que mais de um juiz está envolvido no crime.
Em 24 de março de 2003, o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, 32, foi morto com três tiros, em Vila Velha (Grande Vitória), em frente à academia que freqüentava. Como executores do crime, dois homens foram condenados a 25 anos e oito meses e a 24 anos e seis meses de prisão.
Na época, Castro Filho era o titular da 5ª Vara Criminal (Execuções Penais) de Vitória, em substituição a Antônio Leopoldo Teixeira, agora implicado no crime.
O pai do juiz morto afirmou que não pode citar nomes, em razão de haver segredo de Justiça sobre os autos do inquérito policial.
Para levar a público as informações que sustentavam as suspeitas contra o juiz Teixeira, o secretário da Segurança Pública do Estado, Rodney Rocha Miranda, obteve na Justiça uma autorização para divulgar partes do inquérito, que ele revelou na segunda passada, restringindo-se ao nome de Teixeira e a seus supostos crimes.
"Há uma recomendação de sigilo da Justiça, eu não devo mencionar nomes. Mas isso é de conhecimento tanto da polícia como agora do Tribunal [de Justiça do Estado]. No dia do crime, cerca de 30 minutos depois, tinha um juiz na delegacia, que pressionou uma testemunha para mudar o depoimento para aquela versão ridícula de latrocínio. Eu percebi que esse juiz poderia até não ter ligação com o mando do crime, mas estava ali à disposição de quem mandou", disse Castro.
Ainda segundo Castro, outro magistrado foi ao palácio do governo no dia do crime para tentar participar da reunião do Executivo que discutia o assassinato. Castro disse que esse juiz se apresentou como representante do Tribunal de Justiça, o que seria falso.
"É fácil perceber um esquema previamente articulado. O crime é perpetrado às 8h, às 8h30 tem um juiz na delegacia para tumultuar e outro juiz no palácio do governo. Eu acredito que tenha havido um complô para matar meu filho."
Segundo o advogado, seu filho passou a sofrer ameaças de morte mais constantes do que já recebia após ter feito uma representação contra o juiz Teixeira, em novembro de 2001, na Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado.
Castro Filho denunciava um suposto esquema capitaneado por Teixeira dentro da 5ª Vara Criminal (Execuções Penais) de Vitória de venda de sentenças e mudança de regime de detenção de fechado para semi-aberto a presos, em troca de quantias em dinheiro.
Por uma mudança de regime, por exemplo, o preço cobrado era de R$ 20 mil, segundo o depoimento de uma testemunha.
O pai do juiz assassinado crê que agora, com a relação do juiz Teixeira com o crime, a questão do mando começa a ser desvendada. Castro, que divide seu tempo entre Espírito Santo e Rio, anda acompanhado em tempo integral de um guarda-costas pessoal.
Na sexta-feira, um dos defensores do juiz preso, Fabrício Campos, afirmou que o pedido de prisão "foi uma medida precipitada" e que seu cliente não iria impor obstáculos à condução das investigações complementares requisitadas pela Justiça. Ele afirmou que seu cliente foi preso com base em "meras suposições".


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