São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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NOVA FAMA

Severinos contam que ser homônimo do político agora nacionalmente conhecido traz um pouco de desconforto

Severino Cavalcanti é analisado por xarás

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA

No princípio, era o nome -e ele era santo e bom. Depois virou adjetivo, sinônimo da miséria do retirante nordestino. Agregou um tanto de preconceito, mas a poesia pode tudo e tinha a melhor das intenções. Até que aos céus da política ascendeu Severino Cavalcanti (PP), 74, o novo presidente da Câmara dos Deputados.
Pernambucano de João Alfredo, no agreste do rio Capibaribe, egresso do chamado baixo clero do Congresso, Cavalcanti inundou jornais, rádios e TVs com um discurso pontuado de regionalismos nem sempre compreendidos e atitudes que os homens de boa vontade chamam de transparência, e os outros de desfaçatez. Para muitos, ser homônimo do político agora nacionalmente famoso ficou meio desconfortável.
"Cheguei a pensar: por que não chamam o deputado de Cavalcanti? O Eduardo não é Suplicy? O Antonio não é Palocci? O Geraldo não é Alckmin? ", pergunta o professor e escritor Severino Antonio Moreira Barbosa, 53, que é neto e pai de Severino.
Para o professor e escritor, porém, a atuação do presidente da Câmara tem um lado bom. "Ele expõe cruamente várias de nossas precariedades públicas e privadas. Nesse sentido, é uma experiência pedagógica."
Será? É o que a Revista foi perguntar a xarás, das mais variadas profissões.
"O presidente da Câmara não deve ser ridicularizado por ser um Severino pernambucano. A justa crítica à sua maneira corporativista e fisiológica de fazer política se enfraquece ao se adicionar preconceito ao discurso. Essa onda toda em torno do jeito pitoresco de ser de Severino Cavalcanti serve para deixar livre o caminho para outros políticos, apenas superficialmente diferentes dele, agirem do mesmo modo", afirma Severino Toscano do Rego Melo, 44, pernambucano de Paudalho, professor de matemática da USP.
Já a doméstica Severina Maria Aguiar, 41, pernambucana, diz: "Acho o comportamento dele escabroso, mas não me venham com essa história de "somos todos Severinos'". Chamada de Mina ou Menininha, ela, que nunca gostou do nome, conta que a carga ficou pior depois de Cavalcanti.


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