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URBANISMO
Especialistas em mobilidade urbana dizem faltar equipamentos, como cafés ao ar livre, que estimulem a apreciação do Vale
Para franceses, Anhangabaú não é amigável
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Vale do Anhangabaú, manhã de
sol. Rodeado pelos prédios históricos como o Teatro Municipal,
um trio de franceses admira o local. Mas uma coisa chama a atenção dos visitantes: além deles, são
poucos os que param no local. A
maioria apenas passa apressada.
"Aqui deveria haver um café
com mesas ao ar livre, brinquedos
para as crianças, algo que estimulasse as pessoas a se apropriarem
do local", afirma Mireille Apel-Muller. O comentário não vem de
um grupo de turistas. Mireille,
Francis Rambert e Marie-Hélène
Massot são especialistas em um
tema cada vez mais caro às grandes cidades: a mobilidade urbana
-que não aborda apenas a velocidade com que se vai de um ponto a outro, mas também a harmonia entre os veículos e o entorno, o
conforto durante o trajeto e, até, o
direito de passear num calçadão.
A convite da Folha, eles visitaram quatro pontos do centro, que
serviram de base para discussão.
O tema foi abordado num encontro realizado na semana passada em São Paulo pela seção brasileira da organização francesa
IVM (Instituto Cidade em Movimento). Mireille Apel-Muller é a
coordenadora geral da entidade.
Francis Rambert dirige o instituto
francês de arquitetura e Marie-Hélène Massot é diretora do instituto francês de pesquisa sobre
transporte e segurança.
A visita começou pelo Anhangabaú. "A composição arquitetônica do vale é ótima. Mas é um espaço mais voltado à circulação.
Para criar um lugar público que
propicie o encontro, é preciso
equipá-lo para isso. Aqui não há
muitos lugares onde as pessoas
possam parar", diz Marie-Hélène.
Alvo de atenções apenas quando é interditado devido a chuvas,
o túnel que passa sob o vale do
Anhangabaú também instigou os
visitantes. "Parece que a qualificação da superfície não ocorreu no
subsolo. Não se deve tratar [o túnel] como um espaço só funcional, técnico. A tendência mundial
é mostrar que não existe um lugar
menor, que não mereça atenção.
Tudo na cidade merece um cuidado estético", diz Rambert.
Beleza é uma das últimas palavras em que se pensa diante do
elevado Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão. Construído
em 1971, o viaduto é associado à
supremacia do carro na cidade.
"Nos anos 60, a idéia era separar
tudo -carro, pedestre. Hoje, o
conceito é o da integração: os espaços públicos devem misturar os
usos", diz o arquiteto.
Outro problema dos viadutos é
a degradação das áreas que ficam
abaixo deles, geralmente inutilizadas, afirma Mireille. No evento,
um dos projetos apresentados
chamava a atenção por valorizar
um desses espaços: o escritório ficava "pendurado" num viaduto.
Em Boston, nos EUA, um viaduto que existia no centro da cidade foi parcialmente destruído
em 2002. A cidade está construindo uma rede subterrânea de ruas.
Em Barcelona, a opção adotada é
mais barata: vias expressas que ficam semi-enterradas.
A estação da Sé foi apontada por
Francis como um bom exemplo
de valorização do subsolo, devido
à boa iluminação e ventilação do
local, além do jardim.
Mas, para Marie-Hélène, falta à
estação uma integração direta
com outros meios de transporte.
A presença de um estacionamento, por exemplo, poderia fazer alguns motoristas dividirem seu
trajeto entre o carro e o metrô.
Além disso, a adoção de um bilhete único é fundamental, diz ela. "É
um custo alto, mas que deve ser
assumido, pois tem um grande
reflexo na vida do usuário."
No início deste mês, o governo
estadual decidiu revogar a licitação do Metropass, cartão que seria usado no metrô e nos trens.
No ano passado, a cidade adotou o bilhete único para os ônibus, que também ganharam corredores exclusivos. A adoção dos
corredores de ônibus é positiva
por promover um deslocamento
rápido a um custo menor que o
do metrô, dizem os especialistas.
A ressalva é quanto ao risco de
acidentes. "O pedestre precisa de
opções seguras para atravessar as
pistas", diz Mireille.
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