São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

Próximo Texto | Índice

Depoimentos de testemunhas basearam pedido

Folha apurou que principal argumento usado por delegado foram os relatos sobre uma briga antes de a menina morrer

Expectativa era que o casal se entregasse durante a madrugada; caso isso não ocorresse, eles passariam a ser considerados foragidos

LUÍS KAWAGUTI
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça decretou ontem à noite a prisão temporária por 30 dias do casal Alexandre Nardoni, 29, e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, 24, pai e madrasta da menina Isabella Oliveira Nardoni, 5, morta no último sábado na zona norte.
A expectativa da polícia era que o casal se entregasse na madrugada. Se isso não ocorrer, eles passariam a ser considerados foragidos e podem ser presos a qualquer momento.
A polícia não informou em que baseou o pedido de prisão, sob o argumento de não atrapalhar o caso. O delegado Calixto Calil Filho, do 9º DP e responsável pelas investigações, já havia apontado várias divergências no depoimento do pai.
A Folha apurou que o principal argumento do delegado para encaminhar o pedido de prisão foram os depoimentos de várias testemunhas, relatando uma briga momentos antes de a menina morrer, e o da mãe de Isabella, Ana Carolina de Oliveira, ontem pela manhã.
Anteontem, o delegado tinha afirmado que duas testemunhas disseram ter ouvido gritos de "pára, pai" no sexto andar do prédio onde o casal mora no dia da morte da menina.
Na mesma decisão em que decretou a prisão do casal, o juiz Mauricio Fossen, da 2ª Vara do Júri do fórum de Santana (zona norte), determinou o sigilo do inquérito policial.
O pedido do delegado teve parecer favorável do Ministério Público -que designou o promotor Sérgio de Assis para acompanhar o caso.
Ricardo Martins de São José Filho, um dos advogados do casal deixou o 9º DP, ontem à noite, sem falar com os jornalistas. Segundo a polícia, eles disseram terem ido ao DP para se informar sobre o pedido de prisão, mas não se comprometeram em levar o casal à polícia.
Anteontem, o advogado havia dito que seus clientes vão provar sua inocência (leia texto na pág. C4).
A polícia esteve ontem à noite na casa do pai do consultor, mas deixou o local após conversar com parentes.

Caída no chão
Isabella foi achada no jardim do prédio onde mora seu pai. A menina, que vivia com a mãe, tinha passado o dia com o pai, com a madrasta e com os dois irmãos por parte de pai.
Nardoni relatou à polícia que, ao chegar ao prédio com a família, as três crianças dormiam e que, por isso, ele subiu primeiro com Isabella.
Disse que deixou a menina na cama e voltou à garagem para ajudar a mulher com as duas outras crianças. Ao voltar ao apartamento, segundo esse relato, Isabella já não estava lá.
Em depoimento ontem, o sargento da PM Luiz Carvalho, que estava no primeiro carro policial a chegar ao prédio, na noite de sábado, disse que Nardoni relatou aos PMs, na ocasião, ter visto uma pessoa dentro do apartamento jogar a menina pela janela.
Por isso, após a menina ser levada ao hospital, a polícia cercou o prédio e fez uma varredura, mas não achou ninguém.

Ameaça
Em 2003, a mãe de Isabella registrou um boletim de ocorrência contra Nardoni por "ameaça". Datado de 12 de setembro daquele ano, o documento relata que o consultor não aceitava que a filha, então com um ano e quatro meses, fosse colocada numa escola.
Teria passado, então, a ameaçar de morte Ana Carolina e a mãe dela, Rosa, além de afirmar que iria "sumir com a menina". A Folha não conseguiu apurar como foi a investigação e se houve desdobramento judicial.


Próximo Texto: Advogado do casal diz não haver elementos para pedido de prisão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.