São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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NARCOTRÁFICO
Suspeito de ser testa-de-ferro de Augusto Farias fratura perna direita e vai a depoimento de maca
Ação da PF faz suspeito depor na CPI

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


O empresário Marcos Tenório Maia, apontado pela CPI do Narcotráfico como suspeito de ser testa-de-ferro do deputado federal Augusto Farias (PPB-AL), chegou ontem de maca para depor na comissão em Maceió.
Com a perna direita enfaixada, Maia afirmou, ao mostrar radiografias, que fraturou o perônio (osso da perna) em acidente de moto no domingo.
Atestado médico enviado pelo empresário recomendava-lhe repouso por 30 dias. Por isso, ele queria falar em casa.
Deputados médicos da CPI disseram que Maia poderia depor na Casa da Indústria, onde a comissão se instalou, se carregado com cuidados. A Polícia Federal foi buscar à força o empresário, que aceitou ir até os deputados.
Até a conclusão desta edição, seu depoimento não começara.
Maia é, oficialmente, sócio majoritário da Tigre Vigilância Patrimonial de Alagoas Ltda., empresa que a CPI suspeita ser de Augusto.
Conforme a Folha revelou ontem, documentos obtidos pela CPI na agência do Banco Rural em Maceió mostram que o condomínio do apartamento do deputado foi pago, em fevereiro, com dinheiro de conta da Tigre.
Farias nega que tenha participação na firma. Diz que entrega todos os meses dinheiro em espécie para Maia, "ex-assessor e amigo até hoje", pagar algumas contas pessoais suas.

Outras investigações
O deputado Robson Tuma (PFL-SP), sub-relator da CPI para Alagoas, reafirmou que, se comprovada a suposta mentira de Augusto Farias sobre a propriedade da Tigre, a comissão teria motivos para propor à Câmara dos Deputados sua cassação.
Há outras investigações sobre Augusto Farias em Maceió. A CPI quer saber por que ele se tornou um dos titulares da conta 97-000044-1 da agência 0035 do Banco Rural, em Maceió, em 1º de setembro de 1996. O outro titular é seu irmão Luiz Romero Farias.
Até a véspera, a conta estava em nome de Luiz Romero e Paulo César Cavalcante Farias, irmão dos dois, assassinado no mês de junho daquele ano.
A conta de final 44-1 recebeu R$ 150 mil de uma conta de PC (16/ 09/96), transferiu R$ 164.917,26 para uma conta de Augusto (17/ 09/96) e recebeu, da conta do deputado, R$ 179.801,42 (03/ 12/96).
O maior interesse da CPI é saber por que mudou a titularidade da antiga conta de PC com Luiz Romero, antes de Augusto Farias ser nomeado pela Justiça tutor dos filhos de Paulo César.
A CPI também investiga a suposta participação do deputado alagoano nas mortes de PC e Suzana Marcolino, em 23 de junho de 1996. O deputado foi indiciado pela polícia sob acusação de co-autoria dos homicídios. Ele nega.
A CPI reafirmou a convocação do legista Badan Palhares, da Unicamp. Ele enviou fax dizendo ser impossível viajar de Campinas (90 km de SP) pelo atraso no "convite" enviado pela comissão.
Robson Tuma disse ontem ter recebido ligação de uma pessoa -o deputado não quis identificá-la- narrando plano para assassiná-lo. A trama teria sido armada por Eduardo Amaral, funcionário da Secretaria de Segurança de Alagoas e filho do ex-secretário de Segurança José Amaral.
A Folha não conseguiu falar com Eduardo Amaral. A segurança dos deputados aumentou de 80 para 120 homens.

Paraguai
Integrantes da CPI do Narcotráfico estão, desde ontem, reunindo-se com autoridades paraguaias em Assunção para tratar de possíveis facilidades ao narcotráfico no Paraguai.
A primeira reunião havia sido marcada para as 18h30 de ontem. Nela, os deputados brasileiros pretendiam debater com parlamentares paraguaios supostas facilidades existentes a traficantes na "fronteira tríplice".
Até o fechamento desta, não havia sido anunciado o resultado do encontro. Hoje, os integrantes da comissão terão audiência com o presidente paraguaio, Luis González Macchi.


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