São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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SISTEMA PRISIONAL

Briga entre presos do CDL e do CRBC foi estopim da rebelião mais violenta do ano em São Paulo

Conflito entre facções provoca sete mortes

Juca Varella/Folha Imagem
Rebelados observam os corpos dos sete detentos que foram mortos durante a rebelião


ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em vez de apenas escrever mensagens ou o nome da facção que liderava a rebelião no pátio do presídio, detentos expuseram ontem, em São Paulo, um ao lado do outro, os corpos de sete presos mortos a estiletadas no motim mais violento do ano no Estado.
Os detentos ficaram no chão, no pavilhão 3 do recém-inaugurado CDP 1 de Guarulhos (Grande São Paulo), durante as três horas e 45 minutos de rebelião, sem que os amotinados permitissem nenhum tipo de socorro médico.
A cena mostra mais uma batalha da guerra em andamento nas prisões paulistas. Os mortos seriam do CDL (Comando Democrático para a Liberdade), assassinados pelo CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), dissidência do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Ao lado dos corpos, os rebelados escreveram, com lençóis, a frase "Os 7 verme CDL" (sic), imitando as inscrições do PCC.
O CDL lidera entre as facções que mais perderam "soldados" neste ano, com pelo menos 13 baixas. Desde janeiro, 23 detentos morreram em rebeliões nas prisões paulistas -quase a metade das 48 mortes do ano passado, que incluem as 20 vítimas da megarrebelião de um dia liderada pelo PCC em 29 prisões.

Estopim
A rebelião começou por volta das 9h30, após briga no pavilhão 3 entre facções rivais, segundo o coronel Tomaz Alves Cangerana, 50, do policiamento de choque. Daí em diante, os cerca de cem amotinados fizeram agentes de segurança reféns. Em poucos minutos, os outros sete pavilhões estavam rebelados.
Sete funcionários ficaram como reféns, enquanto a polícia e funcionários da Secretaria da Administração Penitenciária negociavam. Os reféns foram liberados sem ferimentos. No final do dia, detentos do CDL e do CRBC envolvidos na briga foram transferidos para outros presídios.
Os presos mortos foram identificados como: Fábio da Silva Alves, Marcelo Luiz Ramiro, Adilson Rodrigues Garcia, Marcos Pimentel de Carvalho, Adailton Gomes Pinto, Denis Augusto Marques e Ronildo Rodrigues da Silva. A secretaria não disse de que facção eles eram. Cinco deles estavam em detenção provisória, aguardando julgamento.
Não há superlotação no CDP de Guarulhos, que ontem tinha 664 presos, apesar do espaço para 768 detentos.
Para entender melhor o que aconteceu, é preciso lembrar a inauguração da unidade, há dois meses. O CDP de Guarulhos recebeu, antes de estar pronto, cem detentos transferidos do Cadeião 2 de Pinheiros (na capital) -destruído após rebelião do PCC.
Outros encarcerados vieram de distritos policiais de Arujá e Santa Isabel. Até detentos da Casa de Custódia de Taubaté, berço do PCC e que agora reúne integrantes do CRBC, foram transferidos para o CDP, segundo parentes de presos disseram à Folha ontem.
O Ministério Público investiga hoje uma suposta aliança entre PCC e CRBC. ""Meu irmão levou dez facadas na segunda semana dele aí [no CDP de Guarulhos" porque não queria entrar no PCC", afirmou ontem o irmão de um detento, que, com medo, não quer ser identificado.
A unidade enfrentou tensão crescente nos últimos dias. No final de semana, os pavilhões 3 e 6 ficaram sem visita por indisciplina. Houve rebelião no primeiro, após briga entre grupos na semana retrasada, e um início de túnel foi encontrado no segundo durante revista.
Os pavilhões 5 e 7 seriam os próximos punidos por causa de pequenos motins nesta semana.
A rebelião e as mortes serão investigadas pela Corregedoria Administrativa, por meio de sindicância aberta ontem. A assessoria da secretaria informou à noite que não falaria sobre o motim.



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