São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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TRÂNSITO

Pesquisa mostra que, além da falha humana, problemas da via, do ambiente e do veículo interferem na maioria dos casos

Fator externo influencia 56% dos acidentes

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa inédita no Brasil indica que a maioria dos acidentes graves de trânsito, além da interferência dos fatores humanos, é motivada também por problemas das vias, do ambiente e das condições dos veículos.
O estudo coordenado pelo especialista Roberto Scaringella, ex-presidente e fundador da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), investigou 85 casos em São Paulo nos últimos dois anos.
Ele aponta que 44% dos acidentes aconteceram exclusivamente por fatores humanos. Os demais 56% foram provocados também por outras interferências. Os problemas da via e do ambiente tiveram participação em 37% dos casos, e os dos veículos, em 27%.
Embora os fatores humanos constem de todas as ocorrências analisadas, os dados desmistificam informações divulgadas por autoridades de trânsito no país, sem comprovação estatística, que minimizam a influência das falhas das vias e dos veículos -atribuindo a elas a causa de apenas 10% dos acidentes, sendo os 90% restantes responsabilidade exclusiva dos motoristas ou pedestres.
"Foi uma inverdade repetida tantas vezes que passou a fazer parte do inconsciente coletivo", diz Scaringella. "Normalmente, é a combinação desses fatores que resulta em um número grande de vítimas de trânsito", afirma.
A influência das condições da via, do ambiente e dos veículos nos acidentes é mais presente nas áreas urbanas. A pesquisa analisou 33 casos em janeiro e fevereiro de 2002 na zona norte da capital paulista: 22% tiveram como causa específica fatores humanos -embriaguez, excesso de velocidade, imprudência, cansaço e falta de atenção do motorista.
Em 51% dos acidentes, além da falha humana, as más condições do veículo também influenciaram -pneus carecas, falta de freio, lanternas apagadas. Em 48% houve interferência de problemas das vias -buracos, desníveis no asfalto, falta de sinalização- ou do ambiente -falta de visibilidade e chuva, por exemplo.
Nos trechos rodoviários, foram investigados 52 casos nos últimos dois anos, na malha administrada pela Centrovias, na região de São Carlos (244 km de SP): 57% deles tiveram as falhas humanas como causas exclusivas. Defeitos nos veículos interferiram em 14% dos acidentes e problemas nas vias e no ambiente, em 31%.
A pesquisa foi apoiada por entidades ligadas à indústria e ao comércio de autopeças e reparação de veículos -Sindipeças, Sindirepa, Andap e Sincopeças- e pela Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização).
Para Scaringella, a interferência dos demais fatores não minimiza a importância do fator humano, que esteve presente em todos os acidentes analisados. "Mas não adianta cuidar só do motorista e do pedestre. É preciso combater as outras causas", afirma Adauto Martinez Filho, coordenador-operacional da pesquisa.
No Brasil há mais de 40 mil mortes no trânsito por ano, que representam quase 10% de todas as que acontecem no mundo.
A avaliação de Scaringella é que a renovação da frota e a inspeção veicular, que começará no ano que vem, podem reduzir a quantidade de acidentes influenciados pela má condição dos veículos.



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