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VIOLÊNCIA
Jornalista, que confessou ter matado a ex-namorada, não conseguiu suspender no STF o julgamento, previsto para hoje
Pimenta Neves vai a júri após quase 6 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quase seis anos após o crime e
vários recursos para tentar adiar o
júri popular, o jornalista Antonio
Marcos Pimenta Neves começa a
ser julgado hoje pela morte da ex-namorada, a também jornalista
Sandra Gomide.
Pimenta Neves, 69, confessou o
crime. No dia 20 de agosto de
2000, ele deu dois tiros na ex-namorada em um haras em Ibiúna
(64 km de SP). O primeiro atingiu
as costas de Sandra, à época com
32 anos. O segundo, no ouvido,
foi à queima-roupa.
A defesa do jornalista, ex-diretor de Redação do jornal "O Estado de S.Paulo", afirma que ele
agiu sob forte emoção. Pimenta
Neves foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio doloso com duas qualificadoras (agravantes): motivo torpe (ciúmes) e
recurso que impossibilitou a defesa da vítima (tiro pelas costas). Se
for condenado, a pena pode chegar a 30 anos, segundo o promotor Carlos Rodrigues Horta Filho.
A defesa de Pimenta Neves perdeu ontem os últimos recursos judiciais para tentar impedir o júri
popular. O STF (Supremo Tribunal Federal) negou habeas corpus
em favor do jornalista que pedia a
suspensão do julgamento em
Ibiúna. A defesa argumentou que
o processo criminal não está
pronto para ser levado a julgamento, porque o seu cliente não
teria exercido plenamente o direito de ampla defesa.
Ontem, o relator desse habeas
corpus, ministro Celso de Mello,
mandou arquivar o pedido por
uma razão processual: afirmou
que o tribunal não aprecia causa
que não teve exame de mérito no
STJ (Superior Tribunal de Justiça), instância inferior da Justiça.
No STJ, a 6ª Turma também
confirmou, na tarde de ontem, o
júri popular marcado para as 8h
de hoje. Pimenta Neves queria
que o STJ desqualificasse a acusação de motivo torpe. Na semana
passada, Quaglia Barbosa, que é
relator de um habeas corpus do
jornalista, já havia derrubado
uma liminar dele próprio que suspendia o julgamento.
O júri decide
Ontem, os outros ministros
confirmaram a decisão do colega.
Eles disseram que caberá ao próprio júri decidir sobre a existência
ou não das duas qualificadoras do
crime: motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.
O jornalista foi preso dias após o
crime, mas desde março de 2001
espera o julgamento em liberdade, em razão de liminar do ministro do STF Celso de Mello, relator
de outro habeas corpus dele.
Na época, Mello considerou
desnecessário mantê-lo em prisão
preventiva, porque disse que, livre, o jornalista não representaria
risco à sociedade nem prejudicaria a investigação.
Ontem, a defesa de Pimenta Neves entrou com um habeas corpus
no TJ (Tribunal de Justiça) de São
Paulo solicitando que, em caso de
condenação, o jornalista tenha o
direito de recorrer da pena em liberdade provisória. O pedido foi
negado no final da tarde pelo desembargador Carlos Bueno.
Para o Ministério Público, a defesa está tentando se antecipar a
uma decisão que deve ser do tribunal do júri em Ibiúna. A acusação deve pedir a prisão imediata
de Pimenta Neves se ele for condenado pelos jurados.
Na última sexta-feira, a defesa
anexou ao processo dez DVDs.
Segundo o advogado Sergei Cobra Arbex, assistente de acusação
contratado pela família de Sandra, a tendência da acusação é
aceitar o material para evitar que
seja alegado cerceamento de defesa. Ele diz não saber o conteúdo
dos DVDs. A advogada de Pimenta Neves afirmou que não falaria
com a imprensa.
Prazo
O júri deve durar, no máximo,
dois dias, segundo previsão do TJ.
Uma das possibilidades é que o
resultado saia na madrugada de
amanhã. O julgamento movimentou a cidade de cerca de 65
mil habitantes, onde é possível ver
carroças circulando pelas ruas.
Cerca de 200 pessoas estão escritas para assistir ao júri. Serão sorteadas apenas 22 senhas.
Leia mais sobre o julgamento de Pimenta Neves na
www.folha.com.br/061222
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