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Relatório contém equívocos contra casal
Para reforçar acusações contra os dois, polícia incluiu informações equivocadas e omitiu outras no relatório enviado à Justiça
Além de incluir testemunho de vizinho com enganos, a polícia deixou de mencionar pontos que favorecem a versão de Alexandre
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil de São Paulo
incluiu informações equivocadas e omitiu outras no relatório
enviado à Justiça sobre o assassinato da menina Isabella Nardoni, 5, a fim de deixar mais
contundentes as acusações
contra o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.
Em seu relatório, a delegada
Renata Pontes informa que o
coordenador em segurança
Waldir Rodrigues de Souza,
morador do prédio vizinho ao
London, ouviu uma grande discussão entre uma mulher e um
homem, supostamente do casal
Nardoni, momentos antes de
escutar gritos sobre a queda de
Isabella no jardim do edifício.
O depoimento de Souza foi
um dos 20 citados pela polícia
no relatório final dentre as 67
testemunhas ouvidas ao longo
da investigação.
No documento enviado à
Justiça, a policial descreve que
o morador afirmou ter chegado
em seu apartamento às 23h30
e, "em dado momento, sua mulher foi despertada por uma
discussão de homem e mulher,
vinda do prédio ao lado".
Na íntegra do depoimento de
Souza, no entanto, é possível
verificar que ele disse ter chegado às 21h30 ao apartamento.
Ou seja, duas horas mais cedo.
Esse equívoco da polícia não
teria muita relevância, porém,
não fossem os detalhes omitidos no relatório: a briga, segundo ele, ocorreu por volta "das
23h", "durou cerca de 15 minutos", e que ouviu uma mulher
dizendo "jogaram a Isabella do
sexto andar" tendo "visto claramente o horário no relógio que
indicava 23h23".
Ocorre que, segundo o próprio relatório, o carro da família Nardoni, um Ford Ka, desligou seu motor na garagem do
edifício London às 23h36m11.
Às 23h23, como mencionou a
testemunha, o casal não tinha
nem chegado ao prédio. A menina foi jogada ao gramado,
ainda segundo a polícia, às
23h49m19, ou 26 minutos após
o horário que Souza relatou.
O relatório diz: "O tempo total estimado entre a chegada
dos indiciados na garagem, a
partir do desligamento do motor, até a queda de Isabella é de
13 minutos". A briga, segundo
Souza, que compareceu à simulação do crime feita na semana
passada, "durou cerca de 15 minutos". Todas esses detalhes
foram omitidos no texto final.
O depoimento de Souza também foi utilizado pela polícia
no pedido de prisão temporária
em abril, que a Justiça concedeu e, depois, revogou.
Omissão
Além de incluir o testemunho do vizinho com equívocos
e omissões, a polícia também
deixou de mencionar no relatório pontos que favorecem a versão de Alexandre.
No primeiro pedido de prisão, a polícia afirma que o pai
de Isabella teve um comportamento incomum ao ver a filha
caída no jardim do prédio, ao se
referir ao fato de ele ter ligado
para a família, em vez de chamar imediatamente o resgate.
"Revela, quiçá, que ambos já
sabiam que nada mais tinham a
fazer para salvar a vida da
criança, necessitando, naquele
momento, de proteção paterna
para eles próprios", diz texto.
No entanto, o professor Antonio Lúcio Teixeira (morador
do edifício London e o primeiro
a acionar o resgate) e o porteiro
Valdomiro da Silva Veloso (que
trabalhava no London na noite
do crime) disseram à polícia
que o pai tentou socorrer a menina por conta própria, mas foi
impedido por Teixeira.
"Após falar ao telefone, desligou e permaneceu na sacada.
De lá, dando [sic] ordem para
Alexandre não mexer na criança e esperar o resgate e as viaturas que já estavam a caminho",
afirmou o professor à polícia,
segundo cópia do depoimento a
que a Folha teve acesso.
O depoimento dos dois consta do relatório, mas essa informação foi omitida.
Outro lado
Procurada, a Secretaria da
Segurança Pública informou
que não comenta mais o caso
Isabella, incluindo o relatório,
porque o inquérito já foi relatado e enviado para a Justiça.
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