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Peritos divergem sobre sangue em carro
Um departamento considera que sangue encontrado é de Isabella; outro entende apenas que a probabilidade é grande
Informação sobre o sangue é importante, pois refuta versão da defesa, que alega que o pai a levou incólume para o apartamento
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Peritos do IC (Instituto de
Criminalística) de São Paulo
que participaram do caso Isabella divergem sobre o sangue
achado na cadeira de bebê, que
estava dentro do Ford Ka da família Nardoni, no dia do crime.
A Folha apurou que, enquanto o Centro de Perícias,
que elaborou o laudo sobre a
cena do crime, trata o sangue
como sendo de Isabella, o Ceap
(Centro de Exames e Análises
de Pesquisas), que fez o laudo
sobre o sangue da vítima, entende não ser possível afirmar
com certeza que o material encontrado no carro seja da menina. A Polícia Civil e o promotor Francisco Cembranelli assumem como definitiva a posição do Centro de Perícias.
Para a acusação, aliás, o sangue achado no carro, atribuído
pela polícia a um corte na testa
de Isabella, foi uma das principais provas para indiciar o casal Alexandre Nardoni, 29, pai
da criança, e Anna Carolina Jatobá, 24, madrasta, pelo assassinato da menina no dia 29 de
março. Isso porque desmontaria a versão da defesa, que diz
que o pai a levou dormindo da
garagem para o quarto, no sexto andar de seu apartamento, e
que ela não tinha ferimentos.
Para a investigação, a madrasta tentou asfixiar a menina
e seu pai a atirou por um buraco feito na tela de proteção da
janela do prédio na zona norte.
A polícia pediu a prisão preventiva de Nardoni e Anna Jatobá.
A defesa do casal, porém, alega inocência -diz que um invasor cometeu o crime. Afirma
que o laudo do IC indica que a
perícia não provou que o sangue no carro é de Isabella e que
vai contratar peritos para dar
parecer sobre os laudos.
Dentro do Ceap, a informação é que é grande a chance de
o sangue no Ka ser de Isabella,
mas o laudo não é conclusivo
quanto a isso porque o material
coletado estava deteriorado, o
que prejudicou o teste de DNA.
Amostra
Na coleta da amostra, os peritos usaram um reagente químico para identificar as manchas
(já que alguém tentou limpá-las), o que prejudicou o exame.
Devido a esses problemas,
um dos peritos do Ceap disse
que, a partir das análises que
confrontaram o sangue no carro com o que já havia sido retirado de Isabella, é possível afirmar que há quase 70% de chances de o sangue no Ka ser dela.
Os outros 30%, disse, referem-se à possibilidade de o sangue ser do pai dela ou dos meio-irmãos, já que todos têm "perfil
genético" semelhante.
De forma técnica, o perito do
Ceap disse que só foi possível
identificar de seis a sete lócus
(posição de um determinado
gene no cromossomo) compatíveis numa das três manchas
de sangue colhidas no carro. O
ideal, prossegue, seriam 16, para se chegar a 99,9% de certeza.
Segundo a TV Globo, o laudo
sobre o sangue diz que a perícia
achou na cadeira de bebê uma
mistura de materiais biológicos
de duas ou mais pessoas -uma
delas do sexo masculino. E, por
conta disso, não foi possível saber a quem ela pertence.
Mas, para um técnico do
Centro de Perícias, o laudo sobre o sangue no carro é conclusivo na medida em que Isabella
era a única com ferimento. E
que o sangue era "recente".
Uma das atribuições do Centro de Perícias é interpretar a
cena do crime a partir de depoimentos e laudos oficiais. Essa
interpretação é feita pelo seu
Núcleo de Crimes Contra a
Pessoa, que também se baseia
em laudos do Ceap.
"Os leigos não sabem ler um
laudo. O sangue é do mesmo
grupo genético da Isabella. Então, se não é da Isabella, é de
quem? O pai e os irmãos não tiveram sangramento. Só não vê
quem não quer", disse ontem o
investigador-chefe do 9º Distrito Policial, Luiz Spinola.
A delegada Renata Pontes, do
mesmo distrito, escreveu em
seu relatório final sobre o inquérito que o sangue "tem o
perfil genético de Isabella".
Procurado pela Folha para
comentar as divergências entre
os centros, o diretor-interino
do IC, Carlos do Valle Fontinhas, diz que "no decorrer das
investigações, se tiver dúvidas,
elas serão respondidas por eles
[peritos]. Não vou me pronunciar. É algo muito técnico".
Consultado pela Folha, Sérgio Mazina, vice-presidente do
Instituto Brasileiro de Ciência
Criminal, afirma que "não existe a chamada prova cabal em
processo criminal".
Segundo ele, há inúmeros casos em que a confissão, "considerada a rainha das provas, se
mostrou falsa". "O que define o
julgamento não é a prova, mas
um conjunto de provas", diz.
Colaborou EVANDRO SPINELLI, da Reportagem
Local
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