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TRANSPORTE
Januária e Campo Limpo pertencem a Baltazar José de Sousa, cujas empresas devem R$ 260 milhões ao INSS
Viações enviaram US$ 12 mi ao exterior
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas empresas de ônibus do
empresário Baltazar José de Sousa
enviaram US$ 12 milhões (cerca
de R$ 36 milhões) ao exterior, entre 1996 e 1997. O grupo de viações
pertencentes a Sousa, que já chegou a ter 61 empresas de ônibus
espalhadas pelo país, deve R$
259.501.437 ao INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social).
A informação sobre as transações financeiras constam do anexo 360 do laudo nš 675/02, elaborado pela Polícia Federal em Foz
do Iguaçu (PR), e foram divulgadas ontem pelo promotor Silvio
Marques, da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo.
O empresário nega, contudo,
que suas empresas tenham remetido dinheiro para o exterior ou
que tenham contas bancárias fora
do país (leia texto ao lado). Ele diz
também que não é mais o dono da
Campo Limpo.
Os papéis mostram que a Viação Januária Ltda. remeteu quase
US$ 10 milhões e a Viação Campo
Limpo Ltda., cerca de US$ 2 milhões. Com esse valor, cerca de R$
36 milhões, é possível comprar
cerca de 240 ônibus novos. A PF
ainda não finalizou relatório com
análise das transações ocorridas
entre 1998 e 1999.
Em entrevista à Folha em agosto de 2000, Sousa disse que operar
empresas de ônibus em São Paulo
só dava prejuízo e, por isso, decidiu vendê-las.
Em todos os casos, o dinheiro
foi remetido do Banco Rural, no
Brasil ou no Uruguai, para a agência de Nova York do Banestado
(Banco do Estado do Paraná, privatizado em outubro de 2000). De
lá, os recursos migraram para o
Swiss Bank e, finalmente, para o
Cambridge Bank Ltd.
De acordo com as informações
do laudo da PF, a Viação Januária
era beneficiária da conta nš
211.070 no Cambridge Bank e a
Viação Campo Limpo, da conta
nš 211.108. A Promotoria não sabe
se as contas ainda existem.
Dívidas
O site do Ministério da Previdência Social na internet informa
que a Viação Januária deve R$ 5,9
milhões ao INSS. A dívida da Viação Campo Limpo, segundo a
mesma fonte, é de R$ 16 milhões.
De acordo com a procuradora
do INSS Sofia Mutchnik, as empresas já eram devedoras da autarquia quando foram realizadas
as remessas de dinheiro.
A revelação das transações financeiras deverá levar o Ministério Público do Estado de São Paulo a instaurar um inquérito civil
para apurar o caso. Marques pediu ao setor de distribuição da
Promotoria que sorteie um promotor para cuidar do caso.
"Será instaurado um procedimento para verificar a origem e o
destino desse dinheiro", diz Marques. A Folha apurou que a Promotoria quer saber se o dinheiro
enviado ao exterior foi recebido
pelas empresas como pagamento
de prefeituras e se migrou para
contas secretas de autoridades
públicas no exterior.
A Viação Campo Limpo já prestou serviços para a Prefeitura de
São Paulo e para a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos). A Viação Januária nunca trabalhou na capital
paulista, mas já prestou serviços
para municípios da região metropolitana de São Paulo.
A procuradora do INSS Sofia
Mutchnik disse que a autarquia
tem várias ações judiciais contra
empresas de ônibus, mas que
nunca consegue executar o valor
das dívidas das viações porque
elas não têm patrimônio.
"Vamos conversar com o Ministério Público Federal e verificar
a melhor forma de buscar esses
recursos para pagar as dívidas das
empresas", disse Mutchnik.
O Ministério Público Federal estuda a possibilidade de investigar
se as transações financeiras constituem prática dos crimes de evasão de divisas e de lavagem de dinheiro. O INSS acredita que, em
tese, as práticas podem configurar
fraude contra a autarquia.
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