São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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ROTA DE FUGA

Salto de 30% no número de passageiros em 2005 reforça plano da Infraero de remanejar aviões para Cumbica e Viracopos

Saturado, Congonhas pode transferir vôos

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Movimento de passageiros no saguão do aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A expressão de cansaço do engenheiro e professor Gustavo Martins, 43, no final da tarde da última quinta refletia, mais do que um dia de trabalho, o sinal de desânimo com a maratona que ainda teria para chegar em casa.
Às 18h, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tentava embarcar para Porto Alegre (RS). Só conseguiu vôo para as 21h40.
O pior não era isso. Ao entrar na fila do check in, que invadia os corredores e atrapalhava a entrada das lojas, ele já se preparava para esperar 40 minutos em pé.
"Passo muito mais tempo no aeroporto do que voando. Só falta perder mais tempo na fila do check in do que dentro do avião", dizia ele, usuário habitual do aeroporto, lembrando que a viagem para a capital gaúcha não costuma ultrapassar 80 minutos.
A insatisfação de Martins é parte de um momento antagônico pelo qual passa Congonhas. O aeroporto está em reforma e completa quase um ano da inauguração de uma ampla sala de embarque elogiada por seus usuários.
Mas a nova área é só "a separação entre céu e inferno", nas palavras do empresário Jorge Souto, 54, de Curitiba (PR), já que os problemas dentro e fora do aeroporto não param de crescer devido a uma explosão de demanda inesperada e indesejada pela Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária).
Em 2005, Congonhas ganhou 10 mil novos passageiros diários. O crescimento foi de praticamente 30% em relação ao ano passado. Já seria expressivo em condições normais. O fato, lá, é agravado porque ele já estava saturado.
O resultado ajuda a reforçar os estudos da Infraero para redistribuir vôos para Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas. Trata-se de uma estratégia semelhante à que foi adotada em Belo Horizonte e no Rio, onde parte das decolagens dos aeroportos da Pampulha e Santos Dumont foi remanejada para Confins e Galeão, respectivamente.
Mas a pressão das empresas aéreas contra a idéia é grande -e tem ecos no DAC (Departamento de Aviação Civil), que há dois anos chegava a encampá-la, junto com as mudanças nos aeroportos centrais mineiros e cariocas.
"É evidente que não há espaço suficiente em Congonhas. Estamos pensando em alternativas", diz Valcemir Braga, diretor de operações em exercício da Infraero, acrescentando que, por enquanto, a única decisão é a de não permitir a criação de vôos novos.

Desconforto
O aeroporto, construído na década de 30, tinha capacidade para receber 6 milhões de passageiros anuais, quantidade que chegou a 12 milhões em 2003, após uma evolução drástica nos anos 90.
A Infraero decidiu, então, reformá-lo apenas para reduzir o desconforto de seus usuários, jamais para atrair mais gente, conforme as publicações oficiais.
O objetivo, porém, começa a ir por água abaixo, já que, no ano seguinte à ampliação da sala de embarque, que era a primeira etapa da reforma, o total de passageiros deve passar de 15 milhões.
"Eles juravam de pé junto que não passariam dos 12 milhões", reclama Regina Monteiro, conselheira do Defenda São Paulo, que critica a expansão desordenada de Congonhas há dez anos.
A explosão de passageiros em 2005 não foi motivada pelo aumento de pousos e decolagens, que foi limitado, até porque não há mais espaço aéreo disponível em Congonhas. Ela esteve ligada à substituição de aviões menores por maiores e ao aumento de sua ocupação -Varig e TAM, por exemplo, fizeram inclusive compartilhamento de vôos.
Se na nova sala de embarque, duas vezes maior que a anterior, os efeitos negativos ainda não aparecem, no restante do aeroporto eles se refletem em filas em corredores, no check in e no desembarque. Bancos são insuficientes, e comprar um café leva até dez minutos nos horários de pico. E os problemas são maximizados fora do aeroporto, já que há 10 mil passageiros chegando e saindo de lá. O engarrafamento do entorno é um dos transtornos.
Pegar ou deixar alguém de automóvel na entrada de Congonhas, na via de acesso ao aeroporto, tentando disputar espaço com taxistas, é missão cada vez mais difícil.
A avenida Washington Luiz, sentido bairro-centro, já se tornou uma pista extra-oficial para embarque e desembarque.
Nem quem quiser pagar R$ 7 pela primeira hora de estacionamento tem vida fácil. Do final de 2004 para cá, a quantidade de vagas disponíveis em Congonhas teve redução de 15% devido à construção de um edifício-garagem.
"Há filas para entrar. Perdi 200 vagas. Para mim ficou péssimo agora, mas vai melhorar", diz Marcelo Bisordi, diretor-gerente da SAO Parking, empresa responsável pelo estacionamento.


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