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Acidente infantil ocorre perto de adulto
Pesquisa em SP mostra que 78% das crianças se machucam com responsáveis ao redor; 55% das ocorrências são em casa
Segundo o Ministério da Saúde, 6.000 crianças morrem e 140 mil são internadas por ano devido a acidentes que são evitáveis
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Carol, 8, caiu do escorregador e quebrou o cotovelo. Vitor,
5, despencou da laje e sofreu
traumatismo craniano. Elber,
3, pulou da sacada e teve hemorragia cerebral. Em comum,
as crianças têm o fato de que estavam acompanhadas por familiares na hora do acidente.
Pesquisa feita em 23 escolas
públicas e privadas de São Paulo mostra que 78% de 2.269
crianças vítimas de acidentes
se machucaram com adultos
por perto. O trabalho, realizado
pela ONG Criança Segura e pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) no ano passado, ouviu 4.616 pais ou responsáveis. Desse total, metade das
crianças, de zero a 14 anos, já foi
vítima de acidentes. Nessa faixa
etária, eles representam a
maior causa de morte no país.
A maioria (55,3%) se machucou em casa. Outros 30%, na
rua. A escola foi palco de 9%
dos casos. É motivo para os pais
estarem atentos a partir de hoje
-início das férias escolares.
"Pais pensam que, estando
por perto, os filhos estão seguros. Mas é preciso supervisão.
Acidentes não acontecem por
acaso. Na maioria das vezes, são
previsíveis e evitáveis", alerta a
cirurgiã pediatra Simone Abib,
responsável pelo núcleo de
trauma da Unifesp e uma das
coordenadoras da pesquisa.
Os pais sabem disso. Tanto
que 87% deles disseram acreditar que os acidentes podem ser
evitados. Para Abib, o problema
é a falta de prevenção.
Queda lidera ocorrências
Dados do Ministério da Saúde indicam que 6.000 crianças
morrem e outras 140 mil são internadas todos os anos vítimas
de acidentes evitáveis, muitos
dos quais com seqüelas permanentes. Na região metropolitana de São Paulo, são 500 mortes e 13 mil internações anuais.
Na pesquisa da Unifesp, as
quedas lideram as causas em
todas as faixas etárias -entre
dez e 14 anos, bicicleta e skate
são os principais vilões (36%).
Queimaduras vêm em seguida.
O estudo não abordou acidentes que tenham levado a
criança à morte. Os últimos índices nacionais do ministério,
de 2003, mostram que acidentes de trânsito lideram causas
de morte, com 41% das 5.993
ocorrências. Vêm depois afogamentos (25%), sufocação (13%)
e queimadura (7%).
Segundo Renato Poggetti, diretor do pronto-socorro de cirurgia do Hospital das Clínicas
da São Paulo, os acidentes de
trânsito afetam mais a criança
de classe média, por falta de
dispositivos de segurança, como o uso de cinto e cadeiras de
segurança. "O pai se lembra de
colocar o cinto nele, porque senão leva multa, mas não oferece a mesma proteção ao filho."
Na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente),
45% das crianças entre zero e
seis anos que passam por reabilitação no grupo de lesões cerebrais são vítimas de traumatismo craniano, a maioria causada
no trânsito. Em segundo lugar,
vêm os atropelamentos (32%).
"A criança é distraída. Os acidentes ocorrem quando ela sai
de casa ou da escola", diz o ortopedista Antonio Carlos Fernandes, da AACD.
Na periferia, diz Poggetti,
quedas de laje e de tanques são
os casos mais freqüentes. "As
crianças soltam pipa, jogam futebol, tudo em cima da laje. Já o
problema do tanque é a falta de
fixação na parede. A criança sobe e ele cai por cima dela."
Para a pediatra Renata
Waksman, do departamento de
segurança da criança da SBP
(Sociedade Brasileira de Pediatria) e uma das coordenadoras
do livro "Crianças e Adolescentes Seguros" (Publifolha), os
pais devem tornar seguro o ambiente infantil. "Criança vive se
machucando. Na maioria das
vezes, são ferimentos leves. Cabe ao adulto prestar atenção
nas fases de desenvolvimento e
prevenir os acidentes."
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