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Após cair de laje, Vitor ficou 16 dias na UTI
Tia cuidava de garoto, que sofreu parada cardíaca e traumatismo craniano e ficou sem enxergar durante dois meses
É comum sentimento de culpa acompanhar pais depois de acidentes que envolvem os filhos; há até casais que se separam
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Vitor, 5, faz fisioterapia por causa do acidente, ocorrido há dois anos em sua casa, em São Paulo |
DA REPORTAGEM LOCAL
7 de julho de 2004. É a data
em que Vitor, 5, nasceu de novo, na versão da mãe, a dona-de-casa Maria Nogueira, 24.
O menino estava sob cuidados de uma irmã de Maria
quando caiu da laje da casa, a
uma altura de seis metros. No
local, dois sobrinhos dela, de oito e nove anos, soltavam pipa.
"Até hoje ela não sabe o que
aconteceu", diz a mãe.
Vitor sofreu traumatismo
craniano. Por sorte, foi socorrido por um bombeiro que mora
na mesma rua de Maria, no Capão Redondo (zona sul), que fez
os primeiros socorros.
"Ele sofreu uma parada cardíaca e o bombeiro conseguiu
ressuscitá-lo com respiração
boca-a-boca", conta a mãe.
O menino permaneceu internado durante um mês no Hospital do Campo Limpo, sendo
que 16 dias foram na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Passou por cirurgia intracraniana e ficou cego durante dois
meses. Também perdeu a fala e
os movimentos e se alimentava
por meio de sondas.
Com o trabalho de reabilitação na AACD, foi reaprendendo
essas funções e hoje está praticamente reabilitado, diz a mãe.
"Só o bracinho direito é que
ainda tem problema motor.
Mas agora ele é uma criança
normal: corre, brinca, come sozinho. Meu filho ressuscitou."
Culpa? "Senti muita. Ficava
pensando que, se estivesse por
perto, não teria acontecido.
Mas chega uma hora em que a
gente precisa reagir e cuidar
das coisas práticas. O importante é que ele está vivo."
Queda e culpa
O mesmo sentimento de culpa teve a estudante de ciências
biológicas Alessandra Ribeiro,
26, cujo filho, Elber, 3, caiu da
sacada do apartamento, a sete
metros do solo.
A exemplo de Vitor, Elber sofreu traumatismo craniano e
hemorragia cerebral. Na hora
do acidente, Alessandra estava
na cozinha, e Elber, na sala, supostamente vigiado pelo tio.
"Ninguém sabe como, mas ele
conseguiu arrastar um banquinho de madeira até a sacada. Só
ouvi o barulho da queda."
O casamento não suportou a
tragédia. Um ano após o acidente, que aconteceu às vésperas do Dia dos Namorados,
Alessandra se separou do pai do
garoto. Elber ainda passa por
reabilitação. "Às vezes, penso
que falhei. Sempre fui organizada, preocupada em agradar o
marido. No dia do acidente, estava mais preocupada com o almoço do que com o meu filho."
De leve
O sentimento de culpa também está presente em acidentes mais leves. O cotovelo quebrado de Carolina, aos dois
anos e meio de idade, após cair
do escorregador, é um fato que
a mãe, Cláudia Cotes, não esquece. "Me senti péssima. Mas,
hoje, penso que esses pequenos
acidentes fazem parte do universo de exploração da criança.
Com muita proteção, a criança
acaba sendo criada dentro de
uma bolha", raciocina.
Aos seis anos, Carol quebrou
dois dentes após de levar um
pontapé na perua escolar. Hoje,
aos oito, pratica ginástica olímpica. "Foi a forma que encontramos de ela aprender a pular
com cuidado", diz a mãe.
(CC)
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