São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

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Após cair de laje, Vitor ficou 16 dias na UTI

Tia cuidava de garoto, que sofreu parada cardíaca e traumatismo craniano e ficou sem enxergar durante dois meses

É comum sentimento de culpa acompanhar pais depois de acidentes que envolvem os filhos; há até casais que se separam


Leonardo Wen/Folha Imagem
Vitor, 5, faz fisioterapia por causa do acidente, ocorrido há dois anos em sua casa, em São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

7 de julho de 2004. É a data em que Vitor, 5, nasceu de novo, na versão da mãe, a dona-de-casa Maria Nogueira, 24.
O menino estava sob cuidados de uma irmã de Maria quando caiu da laje da casa, a uma altura de seis metros. No local, dois sobrinhos dela, de oito e nove anos, soltavam pipa. "Até hoje ela não sabe o que aconteceu", diz a mãe.
Vitor sofreu traumatismo craniano. Por sorte, foi socorrido por um bombeiro que mora na mesma rua de Maria, no Capão Redondo (zona sul), que fez os primeiros socorros.
"Ele sofreu uma parada cardíaca e o bombeiro conseguiu ressuscitá-lo com respiração boca-a-boca", conta a mãe.
O menino permaneceu internado durante um mês no Hospital do Campo Limpo, sendo que 16 dias foram na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Passou por cirurgia intracraniana e ficou cego durante dois meses. Também perdeu a fala e os movimentos e se alimentava por meio de sondas.
Com o trabalho de reabilitação na AACD, foi reaprendendo essas funções e hoje está praticamente reabilitado, diz a mãe. "Só o bracinho direito é que ainda tem problema motor. Mas agora ele é uma criança normal: corre, brinca, come sozinho. Meu filho ressuscitou."
Culpa? "Senti muita. Ficava pensando que, se estivesse por perto, não teria acontecido. Mas chega uma hora em que a gente precisa reagir e cuidar das coisas práticas. O importante é que ele está vivo."

Queda e culpa
O mesmo sentimento de culpa teve a estudante de ciências biológicas Alessandra Ribeiro, 26, cujo filho, Elber, 3, caiu da sacada do apartamento, a sete metros do solo.
A exemplo de Vitor, Elber sofreu traumatismo craniano e hemorragia cerebral. Na hora do acidente, Alessandra estava na cozinha, e Elber, na sala, supostamente vigiado pelo tio. "Ninguém sabe como, mas ele conseguiu arrastar um banquinho de madeira até a sacada. Só ouvi o barulho da queda."
O casamento não suportou a tragédia. Um ano após o acidente, que aconteceu às vésperas do Dia dos Namorados, Alessandra se separou do pai do garoto. Elber ainda passa por reabilitação. "Às vezes, penso que falhei. Sempre fui organizada, preocupada em agradar o marido. No dia do acidente, estava mais preocupada com o almoço do que com o meu filho."

De leve
O sentimento de culpa também está presente em acidentes mais leves. O cotovelo quebrado de Carolina, aos dois anos e meio de idade, após cair do escorregador, é um fato que a mãe, Cláudia Cotes, não esquece. "Me senti péssima. Mas, hoje, penso que esses pequenos acidentes fazem parte do universo de exploração da criança. Com muita proteção, a criança acaba sendo criada dentro de uma bolha", raciocina.
Aos seis anos, Carol quebrou dois dentes após de levar um pontapé na perua escolar. Hoje, aos oito, pratica ginástica olímpica. "Foi a forma que encontramos de ela aprender a pular com cuidado", diz a mãe. (CC)


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