São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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Mãe enfrenta Estado para provar que filho foi morto por tortura

Indaiá Moreira obteve na Justiça direito a indenização de R$ 50 mil; governo do Rio recorreu

Preso por tentativa de assalto, rapaz morreu em carceragem; laudo apontou hemorragia, lesões e queimaduras

DIANA BRITO
DO RIO

A diarista Indaiá Mendes Moreira, 41, rejeitou o silêncio que o medo impõe a muitas mães em sua situação.
Ela luta para receber uma indenização do Estado por causa da morte de seu filho, o ex-soldado do Exército Vinicius Moreira Ribeiro, 20, após sessões de tortura na carceragem da Polinter de Neves, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
A Justiça condenou o governo a pagar-lhe R$ 50 mil. O Estado recorreu alegando não concordar com o valor.
Fotos e laudos indicam que Vinicius "sofreu hemorragia cerebral por ação contundente [lesão provocada por objeto com ponta], perfuração na testa, cabeça e outras partes do corpo, além de queimaduras na mão e ao longo do tórax e da barriga", como está no processo.
"Os policiais disseram que ele caiu no banheiro, mas era mentira. Ele errou quando tentou praticar um assalto, mas não podia ser assassinado", diz Indaiá, lembrando que o filho completara o ensino fundamental e não tinha antecedentes criminais.
Vinicius foi preso após participar, usando uma pedra, de uma tentativa de assalto a um taxista, em 14 de fevereiro de 2009. Deixara o Exército 20 dias antes.
Na madrugada de 5 de março, chegou morto ao Pronto-Socorro Doutor Armando Sá Couto, em São Gonçalo. Indaiá soube ao chegar à Polinter com o advogado da família para que Vinicius assinasse documentos para o pedido de soltura.
"Furaram ele todo, torturaram até a morte meu filho. Na prisão, me disseram que ele passou mal", lembra ela.
Indaiá diz não ter medo de falar sobre o assunto em público. Quer que casos como o do seu filho não se repitam.
Por isso, sonha com a desativação da Polinter de Neves. "Os agressores do Vinicius continuam lá. Não quero que outras mães sofram como eu. Sonho com aquele lugar fechado e que seja feita justiça", afirma.
O promotor público Pedro Mourão diz que o inquérito aponta para tortura, mas, antes de denunciar os responsáveis, quer ouvir Indaiá e os policiais que cuidavam da carceragem no dia.
Casos como o de Vinicius repetem-se nas cadeias brasileiras. Conforme relatório que está sendo preparado pela Pastoral Carcerária, desde 2006 foram registrados no órgão 211 casos de tortura em diferentes Estados.
O trabalho, que será concluído em julho, não inclui dados da Pastoral Carcerária do Rio, que informou não ter esse levantamento.


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