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Mãe enfrenta Estado para provar que filho foi morto por tortura
Indaiá Moreira obteve na Justiça direito a indenização de R$ 50 mil; governo do Rio recorreu
Preso por tentativa de assalto, rapaz morreu em carceragem; laudo apontou hemorragia, lesões e queimaduras
DIANA BRITO
DO RIO
A diarista Indaiá Mendes
Moreira, 41, rejeitou o silêncio que o medo impõe a muitas mães em sua situação.
Ela luta para receber uma
indenização do Estado por
causa da morte de seu filho, o
ex-soldado do Exército Vinicius Moreira Ribeiro, 20,
após sessões de tortura na
carceragem da Polinter de
Neves, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
A Justiça condenou o governo a pagar-lhe R$ 50 mil.
O Estado recorreu alegando
não concordar com o valor.
Fotos e laudos indicam
que Vinicius "sofreu hemorragia cerebral por ação contundente [lesão provocada
por objeto com ponta], perfuração na testa, cabeça e outras partes do corpo, além de
queimaduras na mão e ao
longo do tórax e da barriga",
como está no processo.
"Os policiais disseram que
ele caiu no banheiro, mas era
mentira. Ele errou quando
tentou praticar um assalto,
mas não podia ser assassinado", diz Indaiá, lembrando
que o filho completara o ensino fundamental e não tinha
antecedentes criminais.
Vinicius foi preso após
participar, usando uma pedra, de uma tentativa de assalto a um taxista, em 14 de
fevereiro de 2009. Deixara o
Exército 20 dias antes.
Na madrugada de 5 de
março, chegou morto ao
Pronto-Socorro Doutor Armando Sá Couto, em São
Gonçalo. Indaiá soube ao
chegar à Polinter com o advogado da família para que Vinicius assinasse documentos
para o pedido de soltura.
"Furaram ele todo, torturaram até a morte meu filho.
Na prisão, me disseram que
ele passou mal", lembra ela.
Indaiá diz não ter medo de
falar sobre o assunto em público. Quer que casos como o
do seu filho não se repitam.
Por isso, sonha com a desativação da Polinter de Neves. "Os agressores do Vinicius continuam lá. Não quero
que outras mães sofram como eu. Sonho com aquele lugar fechado e que seja feita
justiça", afirma.
O promotor público Pedro
Mourão diz que o inquérito
aponta para tortura, mas, antes de denunciar os responsáveis, quer ouvir Indaiá e os
policiais que cuidavam da
carceragem no dia.
Casos como o de Vinicius
repetem-se nas cadeias brasileiras. Conforme relatório
que está sendo preparado pela Pastoral Carcerária, desde
2006 foram registrados no órgão 211 casos de tortura em
diferentes Estados.
O trabalho, que será concluído em julho, não inclui
dados da Pastoral Carcerária
do Rio, que informou não ter
esse levantamento.
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